quarta-feira, 21 de março de 2012

Obra mediúnica "GABRIEL" ( II PARTE)



(Esta é uma obra mediunica; ainda não foi revisada em erros de gramatica ou ortografia; porem compartilho a sua essencia com muito amor no nobre obrar de Irmãos Espirituais)

GABRIEL

II PARTE

Equipe Nosso Lar
medium maria
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II Parte : No Hemisfério do Livre Arbítrio

               
                        A  madrugada já surgia forte quando Gabriel acordou assustado. Sentiu que Brigith, ao seu lado dormia profundamente. Trajou-se rapidamente e averiguando que não havia movimento no corredor, tirou a tranca da porta e saiu fechando-a vagarosamente. Caminhou veloz pelo corredor ainda escuro, como se desejasse voar. Desceu a imensa escadaria e alcançou o salão principal. Não poderia sair por ali,  naquele portal, sempre se mantinham alguns guerreiros em vigília. Facilmente alcançou a copa e de lá sem dificuldade teve acesso aos fundos do castelo.
Aproveitou-se da madrugada, ainda escura, e rastejou para que a guarda não o visse.
Conseguiu alcançar o celeiro sem problemas e quando se aproximava do feno, uma mão tocou-lhe quente no ombro , assustando
-         Onde estivestes meu filho ? De onde voltas tão tardiamente ? Onde dormistes Gabriel , está quase amanhecendo !
A voz de Manco, saia tremula e apreensiva.
-         Manco meu bom amigo, me dê um abraço.
Gabriel voltou-se,  abraçando fortemente aquele homem , que lhe era como um pai.
-         Nada me perguntes Manco; preciso muito de tua ajuda !
Manco prontamente falou-lhe:
-         Que desejas tu Gabriel ?
-          Preciso que me consigas duas cordas grandes de laço; um lenço negro; um chapéu de palha; e um facão.
-         Por Deus Gabriel o que desejas tu fazer com isto?
-         Confia em mim Manco, auxiliai-me no que te peço,  pois a minha vida e a minha felicidade dependem disto.
Manco ainda que desconfiasse de suas intenções, não lhe negaria o auxilio. Apressou-se a conseguir o material que havia lhe pedido.
Enquanto Manco se empenhava na tarefa que lhe fora incumbida, Gabriel aproximou-se de um forte cavalo, e balbuciou-lhe baixinho:
-         Serás veloz como uma águia e forte como a mais valente das feras...
Alisou-lhe o pelo negro e o animal relinchou, como ciente do que Gabriel lhe pedia.
Gabriel aproximou-se do feno e sob este tirou um grande arco, que confeccionara cuidadosamente e também um suficiente numero de flechas, arduamente trabalhadas no fogo, nos seus momentos de folga.
Em poucos instantes, Manco apareceu ofegante, trazendo-lhe o material que pedira. Gabriel rapidamente sem nada lhe dizer, pegou os pertences e os colocou na montaria. Montou colocando habilmente o lenço negro sobre a face e o chapéu de palha sobre os cabelos, tomando cuidado para esconde-los.
Olhou Manco, assombrado com o que via e disse-lhe:
-         Não temas, Manco! Voltarei quando o sol estiver alto. Se Philip aparecer diz-lhe que fui ás colinas, pegar algumas ervas para ti. Confio em ti amigo!
Dizendo isto, Gabriel galopou velozmente margeando o rio, para que não fosse visto pelos guerreiros. Após alcançar as colinas, as transpôs em velocidade contínua até alcançar a estrada. Estava convicto de que não poderia viajar por esta e rapidamente se ocultou na vegetação, margeando esta.

Já estava clareando, quando ouviu a aproximação dos viajantes. Acariciou o cavalo ofegante, agradecendo-lhe e apeou da montaria. Estavam a algumas horas do castelo. Gabriel ocultou-se na vegetação e observou os viajantes que se aproximavam. Quatro guerreiros vinham na frente ,em seguida as duas carruagens e atras os sete servos e as carroças. O trotar dos cavalos dos viajantes era lento, possivelmente por estarem em final de viagem e para que os nobres pudessem repousar um pouco.
Gabriel, lembrou-se que somente os guerreiros andavam armados e estes seriam o alvo de suas atenções; ainda que não intencionasse mata-los.
Gabriel tinha um coração bom; Nunca se desentendera com os seus companheiros de lida e nunca discutira com ninguém. Seria incapaz de ferir quem quer que fosse. Mas agora com certeza, faria qualquer coisa para evitar aquele noivado.
Agindo impulsivamente e ardilosamente manipulado por sua paixão, novamente retomou a montaria e alcançou a estrada um pouco adiante. Apeou rapidamente do cavalo e pegando uma das cordas, laçou um pequeno arbusto numa das margens da estrada. Puxou-o para que se vergasse até á outra margem e lá  amarrou a corda fortemente em outra arvore mais robusta. "Isto lhes atrasaria o percurso" pensou consigo mesmo. Achando-o no entanto insuficiente, com agilidade e muita força recolheu galhos, pedras  e troncos em meio á vegetação e com estes obstruiu melhor a passagem, naquela parte da estrada. Procurou a copa de uma arvore frondosa onde pudesse se ocultar sem ser visto, mas da qual pudesse ver e fazer mira. Logo encontrou lugar apropriado e  acomodando-se em um galho, sustentou o arco e preparou a primeira flecha a ser arremessada. Havia  ocultado o cavalo na vegetação e ali ficou imóvel, aguardando que os viajantes surgissem. Não tardou a que estes se aproximassem. Os guerreiros astutos, verificaram a obstrução da estrada e prontamente ergueram as suas espadas, cientes de que poderia ser uma emboscada,. Mas como não ocorria qualquer ataque, após alguns segundos, concluíram ter sido uma mera brincadeira de crianças e ordenaram aos serviçais que liberassem a mesma retirando os obstáculos; Enquanto isto ficaram em alerta sobre suas montarias. Repentinamente, um belo jovem saiu da segunda carruagem indagando sonolento:
-         Porque paramos ?
Um dos guerreiros , cavalgou prontamente até próximo a este, explicando-lhe :
-         A estrada está obstruída com alguns galhos e pedras, que os serviçais já retiram Senhor Lorde, é prudente que não se exponha. .
Gabriel na copa da frondosa arvore, com seu arco em perfeita mira, recordou-se das palavras de Lana " Uma carruagem leva os pais...a outra leva o Lorde" ...Sim, aquele era o pretenso noivo de Brigith. Gabriel segurou firmemente o arco e fazendo mira ao Lorde, atirou rapidamente a primeira flecha.

A flecha rápida e certeira feriu o peito do jovem, que caiu imediatamente. O guerreiro que estava próximo a si, apeou da montaria para auxilia-lo e gritou aos demais:
-         É uma emboscada, precisamos sair daqui !
Os outros guerreiros, incógnitos, tentavam verificar em meio á vegetação de onde provinha o ataque. Gabriel imediatamente desferiu nova flecha e esta novamente, foi certeira em seu alvo, e atingiu o lorde no pescoço. Os guerreiros sentiram-se impotentes, em não conseguiu visualizar o inimigo. Amedrontados com o misterioso ataque, colocaram o jovem Lorde na carruagem e como os servos já haviam desobstruído a estrada, ordenaram retirada de fuga. O Lorde havia se ferido com seriedade e precisavam alcançar breve o castelo para que pudesse ser socorrido. Quando escutaram os gritos dos servos, os pais do jovem, sem saírem de sua carruagem, indagavam suplicantes para que os guerreiros esclarecessem, o que ocorria; mas não havia tempo para respostas.
Mal sabiam estes, que seu único filho, agonizava. Duas flechas lhe atravessavam o peito e o pescoço, em sérios ferimentos.

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Gabriel começava a se preocupar demasiadamente. O sol já alto ia e nenhum movimento ainda existia nos campos. Um pressentimento assustador sufocou-lhe a respiração "E se todos se foram...Como ficaria ali abandonado naquela masmorra fria...sem água...sem alimento..." Caminhou até á porta com dificuldade, estava demasiadamente fraco e debilitado. Juntou as forças que ainda possuía e gritou em voz que lhe saiu rouca e fraca.
-          Alguém aí ? Preciso de ajuda !
Mas as respostas não lhe vinham, como não haviam lhe vindo todos aqueles anos em que implorava um dialogo. Caminhou novamente até á janelinha e ali permaneceu imóvel e angustiado.
-          Alguém aí ? Respondam pelo amor de Deus !
Até o forte sol majestoso parecia lhe negar qualquer informação. Os campos verdes, o rio, as colinas, pareciam todos cúmplices de uma trama terrível.
Sua vida aqueles anos na masmorra, pareciam infindáveis, mas tinha  o alento e o conforto, de ver que a vida prosseguia na propriedade. Mas agora tudo era tão estático e a vida parecia tão inexistente.
 As lágrimas desceram-lhe as faces sujas e forças não teve, de erguer as mãos para secá-las.
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                    Gabriel esperou tranqüilamente que os viajantes se afastassem definitivamente, então desceu da árvore. Recolheu a corda, que os servos ali haviam deixado largada, ainda entrelaçada no arbusto, pegou o cavalo e montando-o afastou-se dali em direção oposta ao castelo;  A caminho das enormes colinas. Aproximando-se de um grande rio, apeou da montaria e permitiu que o cavalo saísse a pastar livremente. Com imenso pesar, jogou nas águas correntes, o seu arco e as flechas que trouxera consigo. Tirou o lenço do rosto e o chapéu que lhe aprisionavam os cabelos e ali também os jogou. Guardou consigo as cordas e a faca, necessário seria devolve-las a Manco. Estava exausto. Retirou as roupas e banhou-se. Somente então, deitou-se para repousar um pouco. Olhou o céu, o sol já ia a meia distancia e por isto não poderia dormir. Após descansar um pouco, ergueu-se e montou continuando o longo caminho para as colinas, onde pegaria as ervas para Manco.


           Os viajantes finalmente chegavam ao castelo de Lorde Orlando. Os guerreiros prontamente apearam das montarias e caminharam na direção do lorde, que os aguardava defronte á entrada principal do castelo. Fazendo breve reverencia um dos guerreiros, lhe falou aflito:
-         Senhor Lorde Orlando, enorme problema tivemos em sua  propriedade. O  Lorde Henri II encontra-se muito ferido.
O Lorde Orlando, não conseguia compreender o que o guerreiro lhe dizia. Nunca havia tido qualquer acidente em sua propriedade e muito menos nas proximidades do castelo. As duas carruagens aproximaram-se do grande portal e um dos serviçais rapidamente abriu a porta de uma delas, e em reverencia curvou-se. Da mesma saiu um casal extremamente elegante e requintadamente trajados. Mas as fisionomias, apresentavam extremo cansaço pelos inúmeros dias de viagem e apreensão pelo incidente na estrada, que ainda não compreendiam. Outros serviçais, imediatamente auxiliaram a carregar o Lorde Henri II, que se encontrava completamente ensangüentado. Este, ainda consciente, olhou ao redor e vendo os seus pais perdeu os sentidos. O sangue lhe jorrava intenso dos ferimentos e o assombro foi geral por parte de todos que o viam, principalmente de seus pais desesperados.
Lorde Orlando, perplexo com tudo, amparou o Duque Henri I e a sua esposa Duquesa Celestine, e os encaminhou ao mesmo aposento para onde o jovem ferido era levado. Somente ali estes puderam averiguar a gravidade do estado de seu filho. No imenso salão de festas, o murmúrio havia silenciado; o que deveria ser um encontro agradável e festivo, agora se tornara um momento de assombro entre a vida e a morte.
Lorde Orlando rapidamente ordenou ao capataz Philip que chamasse o velho Manco, pessoa conceituada no castelo por seus dons de cura. E Philip sem demoras pôs-se a caminho do celeiro.
-         Manco onde estás?
O velho inquietou-se com o chamado de Philip, temendo que fossem más noticias do seu menino Gabriel.
-         Aqui estou Senhor Philip! Em que posso lhe ser útil?
-         Manco apressa-te , precisas acompanhar-me; temos problemas no castelo.
Manco nada mais indagou, mas deu forte suspiro de alivio, ciente de que não eram problemas relacionados a Gabriel.

Rapidamente acompanhou Philip até o castelo e de lá até os aposentos onde se encontrava Henri II. Reverenciando humildemente a nobreza que ali se encontrava, aproximou-se do leito onde estava o jovem. Observou  que aquele nobre esvaia em sangue. O silencio no aposento somente era interrompido pelo respirar asfixiado dele e pelos soluços de sua mãe Celestine. Manco cuidadosamente tateou os ferimentos. Petrificado ficou por alguns segundos, ao reconhecer aquelas flechas; Gabriel, o seu menino havia sido o autor daquele imenso sofrimento. Tentou se restabelecer da imensa dor que agora também o asfixiava. Desejava afastar de si os pensamentos terríveis que lhe vinham á mente;" Poderiam os guerreiros do Duque Henri I  ter matado Gabriel"; "Talvez Gabriel também se esvaísse em sangue em algum canto daquela propriedade"; Os pensamentos  assustadores rapidamente lhe foram interrompidos.
-         Então velho, que podes fazer por meu filho?
Manco despertou novamente para os ferimentos; necessário seria tirar as flechas que ainda se encontravam cravadas no peito e pescoço. O jovem mantinha-se sem sentidos.
-         Senhor Duque, preciso tirar imediatamente estas flechas para tentar estancar o sangue que jorra e somente então poderemos tratar os ferimentos.
O Duque Henri I olhou-o em desconfiança, mas o médico do castelo havia se ausentado e somente Manco  poderia tentar salvar seu filho. Um dos guerreiros já cavalgava até á propriedade de Adredanha para trazer o médico de volta, mas eram longos dias de viagem. O Duque hesitante olhou o Lorde Orlando , que indagou a seu servo:
-         De que precisas Manco?
Manco olhou o Lorde Orlando sempre humilde e falou-lhe:
-         Preciso de faca pequena  e muitos panos limpos e úmidos. Necessário será rasgar-lhe a roupa, para que não se mova o corpo demasiadamente.
Lorde Orlando imediatamente ordenou a dois serviçais que tirassem as vestes do jovem com extremo cuidado. A Duquesa Celestine aos prantos foi retirada do aposento e acompanhada ao salão de festas onde se encontravam todos aflitos. Os serviçais terminaram de rasgar as vestes do jovem. O corpo robusto, mas delicado, parecia perder a vida a cada instante que passava. Um outro serviçal, trouxe a Manco uma bacia metálica, contendo água e panos limpos. E também lhe entregou um pequeno punhal.

No aposento permaneceu somente Manco, um serviçal, o Duque Henri I e o Lorde Orlando. Manco com um pequeno gesto pediu aos nobres que se distanciassem um pouco do leito e com as suas mãos leves fez um pequeno corte no peito do jovem e extraiu a flecha intacta. Desejava poder sumir com aquela prova do crime do seu menino, mas não tendo como faze-lo, deixou-a cair na bacia metálica. Olhou então o pescoço do jovem. Como poderia tirar a flecha  que se encontrava atravessada próximo á nuca...pensou. Novamente, com as mãos muito leves, cortou a extremidade pontuda e depois num rápido e preciso movimento puxou a outra extremidade. Os ferimentos, livres das flechas, liberavam o sangue com maior impulso. Manco apressou-se a estancar o sangue com os panos úmidos.
Apreensivo falou:
-         Preciso de minhas ervas !
O Lorde Orlando imediatamente prontificou-se:
-         Dizei Manco, onde encontrá-las, e pedirei a Philip que lá vá prontamente.
-         Senhor Lorde, perdoai-me a ousadia, mas eu mesmo precisarei escolhe-las. Enquanto lá vou com brevidade,  necessário que um serviçal se incumba de trocar os panos com freqüência até que volte.
O Lorde Orlando consentiu que Manco saísse, ainda que se mostrasse demasiadamente apreensivo com a demora nos cuidados do jovem. Manco retirou-se do aposento e desceu a longa escadaria apressado. Tinha algumas ervas no celeiro, mas essas não seriam suficientes, e há muito Gabriel não as pegava para si nas colinas. O ensinara desde pequeno, onde procura-las e para que serviam; onde estaria o seu aprendiz.
-         Lorde Orlando pediu que te acompanhasse Manco, para que não te demores.
Era Philip que aproximava-se de Manco próximo ao portal do castelo. O velho hesitou temeroso com aquela companhia. Com certeza Philip indagaria por Gabriel.

Entraram no celeiro e Manco suspirou aliviado ao ver Gabriel escovando seu cavalo com tranqüilidade. Sentiu enorme impulso de abraça-lo e abençoa-lo por o encontrar bem e vivo. Mas ao mesmo tempo desejava lhe recriminar o crime e lhe indagar fizera aquele absurdo com um jovem tão bonito e tão cheio de vida. Não ousaria dizer aos nobres, mas por sua enorme experiência, aquele jovem não sobreviveria  aos enormes ferimentos e á grande perda sangüínea. Gabriel caminhou em sua direção dizendo-lhe astutamente:
-         Manco, trouxe-te as ervas que precisavas; demorei um pouco porque foi demasiadamente difícil encontra-las na vegetação.
Manco olhou-o friamente, desejando puni-lo.
-         Gabriel, temos um enfermo no castelo, e elas chegaram-me em proposital hora!
Gabriel prontamente as entregou a Manco e o velho rumou apressadamente para o castelo na companhia de Philip. Gabriel vendo-os distanciarem-se, suspirou aliviado e exausto deitou-se no feno e dormiu.

Manco trabalhou arduamente, amparando a vida daquele jovem, ainda que soubesse que não poderia salva-lo. Aplicava continuamente as ervas nos ferimentos e o sangue havia sido estancado, mas a fragilidade do jovem era enorme.
Como o rapaz dormia mais sereno, os nobres  se retiraram um pouco do aposento e foram-se encontrar com os outros no salão de festas. O Lorde Orlando falou-lhes:
- Lamentável o acontecimento em nossa propriedade; haveremos de descobrir os criminosos. Lorde Henri II repousa mais sereno. Oremos a Deus  para que se restabeleça.
Todos mantiveram-se em silencio. A Duquesa Celestine mantinha-se inconsolável sendo amparada por Joane. Brigith alheia a tudo, se prostrara na janela  desejando ver o servo Gabriel. Ambicionava lhe contar o que ocorrera, ainda que presumisse que já soubesse através de Manco. Sabia que o velho cuidara de Gabriel desde que a sua mãe morrera após o parto ; e que seu pai era desconhecido na região.
Num outro lado do salão, se encontravam Duque Henri I, Lorde Orlando, e os filhos Arthur e Anderson. Treinados em  estratégias de defesa e ataque , tentavam concluir uma lógica para o ataque que havia acontecido na estrada. Inumares indagações eram formuladas. Porque somente um dos viajantes havia sido ferido; porque o ataque não havia atingido os guerreiros; se fossem salteadores o teriam feito; mas não chegavam  a conclusão alguma. Lorde Orlando juntou alguns de seus guerreiros e ordenou-lhes que vasculhassem a estrada e todos os arredores do castelo; temia pela segurança de sua família e de seus convidados. O sol já alto ia quando todos finalmente se reuniram em refeição rápida e silenciosa.

No aposento,  Manco tratava os ferimentos de Henri II continuamente. A respiração lhe estava cada vez mais lenta.
Manco demasiadamente preocupado com as flechas , que ainda se encontravam na bacia metálica, pediu a um serviçal que o auxiliasse a limpar o aposento. Com cuidado extremo, trocaram as mantas sujas do leito e agora o jovem Lorde repousava em leito limpo e alvo. Pegaram a bacia com os panos e as flechas e Manco pediu aos serviçais que jogassem tudo fora, inclusive as muitas ervas que já haviam sido usadas.
O dia passou veloz eManco sentia-se extremamente cansado. A noite já cobria toda a propriedade quando o Duque Henri I entrou no aposento indagando-lhe:
-         Como está meu primogênito ?
Manco levantou-se fazendo breve reverencia.
-         Fiz tudo o que pude pelo jovem Lorde, agora somente Deus poderá auxilia-lo Senhor Duque !
O Duque olhou o filho imóvel no leito e ordenou:
-         Podes retirar-te velho; desejo ficar a sós com meu filho.
Manco prontamente obedeceu-lhe retirando-se do aposento e então o Duque Henri I ,aproximou-se do leito, ajoelhou-se e chorou. A dor daquele pai, tinha que ser discreta e sutil; os nobres deveriam agir com total força e insensibilidade. Por isto pedira para ficar sozinho e somente então poder prantear o imenso sofrimento            que compartilhava com o seu primogênito.
O seu filho, por alguns instantes, entreabriu os olhos, esboçou um sorriso forçado e num suspiro profundo perdeu a vida física. manco ciente de que não tardaria o desenlace, prostrou-se na entrada e aguardava o chamado do nobre.
O Duque, da imensa dor que sentia fez ira, ergueu-se e amaldiçoou o agressor. Pediu a um serviçal que ali também estava na porta, para avisar o Lorde Orlando do falecimento de seu filho; e este o fez comunicando a todos no salão.


             O castelo ficou negro tal qual a noite escura. A tarefa de Manco havia finalizado e imediatamente foi dispensado por Lorde  Orlando. Apressou-se em ir ao celeiro, tinha muito a falar com Gabriel.
Encontrou Gabriel dormindo profundamente no feno, inocente como a mais pura das crianças. Manco sentia-se profundamente infeliz; o educara carinhosamente e o doutrinara na lei maior de amor a Deus e a todos os seres.
Sentou-se próximo a Gabriel e tateou-lhe os cabelos dourados. Gabriel revirou-se e entreabriu os olhos. Olhou a profunda tristeza no olhar de seu velho amigo e tutor e balbuciou ainda sonolento:
-         Manco...me perdoa !
Manco nada  lhe disse; simplesmente olhava-o implorando explicações.
-         Não compreendes Manco, Brigith não poderia casar-se com aquele Lorde. Precisava atrasar a cerimonia. Ela é minha !
Então Gabriel narrou pausadamente a noite que passara com Brigith. Manco inconformado falou-lhe com voz tremula em compaixão:
-         Agistes cego de amor...não, isto não poderá chamar-se de amor. Agistes cego de paixão meu bom Gabriel. Conseguistes o que ambicionavas, não  só atrasastes a cerimonia,  mas eliminastes esta possibilidade definitivamente.
Gabriel não conseguia compreender e Manco num sussurro balbuciou:
-         Matastes o noivo!
Dando uma pausa para controlar a imensa dor que lhe dificultava a fala continuou:
-         Esqueces-te tu no entanto Gabriel, que haverão outros noivos? Matarás a todos? Te perdoará Brigith quando souber de teu ato tão intempestuoso?
Gabriel perante as circunstancias que Manco lhe apresentava, por alguns instantes sentiu-se culpado. Lembrou-se do jovem forte e sadio a quem tirara a oportunidade á vida. Arrependido não estava no entanto, não intencionara mata-lo e finalmente Brigith estava livre temporariamente  de um compromisso de matrimonio. Teria enorme tempo a encontrar soluções para seu amor. Abraçou Manco carinhosamente e lhe disse:
-         Perdoa-me Amigo, amanhã saberei como agir.
Ambos ficaram pensativos . No entanto Gabriel dormiu com brevidade enquanto o velho Manco se amargurava com a cumplicidade num ato tão criminoso de seu menino







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O sol havia declinado sua majestade. Gabriel impotente ainda se segurava nas grades da pequena janelinha. No trigésimo quinto ano de vida suas forças lhe pareciam insuficientes a sustentar-lhe o corpo magro. Deixou-se ceder e ajoelhou-se no chão de pedra, sempre tão frio e tão fétido. Amparou o rosto demasiadamente envelhecido pelos quatro anos ali enclausurado em maus tratos. Sentia-se desfalecera fraqueza que lhe arrebatava o corpo. Parecia enlouquecer na solidão persistente, que lhe chegava todos os dias. O alimento que lhe chegava era insuficiente e a água era salubre. Mas agora, nem a insuficiência de alimento lhe fazia falta, acostumara-se com o pouco. Mas sentia imensa sede. Os lábios ressecados rasgavam-se freqüentemente, trazendo-lhe dor. No corpo as crostas se sobrepunham; sentia-se  sujo. Por vezes quando observava o pasto verdejante da pequena janelinha, o rio lhe trazia enorme necessidade de banhar-se. Nos quatro anos que ali estava por vezes lavava o rosto com a água salubre que lhe era dada a beber. Outras vezes quando a chuva abençoava a  propriedade, expandia as palmas através das grades e com imensa dificuldade banhava-se um pouco. Desejaria haver chuva todos os dias; mas o clima na região era árido e raramente isto ocorria. Freqüentemente os roedores, que compartilhavam a pequena masmorra, em visitas constantes e noturnas, vinham-lhe roer as crostas de sujeira que se espalhavam pelo corpo. Isto não mais lhe incomodava, e sentia-se agradecido porque o auxiliavam. As feridas eram freqüentes e se revezavam continuamente numa reação de cura e dolor tão inexplicável. Os cabelos dourados e extremamente ondulados da juventude, haviam se tornado um emaranhado duro e sujo. A barba e bigode também haviam crescido em demasia, o incomodando com coceiras. Não mais sentia o mau cheiro que exalava nele e no ambiente, acostumara-se; no entanto olhando-se sentia imensa lastima do ser que se tornara. Fazia enorme força para manter-se acordado para perceber qualquer movimento no castelo. Mas o silencio se mantinha absoluto e assustador, e a extrema fraqueza venceu-o adormecendo.
Quando a noite já alto ia, despertou abruptamente com o trotar de cavalos se aproximando do castelo. Levantou-se com dificuldade, e na escuridão da noite, viu vultos a galope e em grande quantidade. Por alguns instantes esqueceu a debilidade de seu corpo, passou a língua nos seus lábios desejando umedece-la e assim poder gritar; mas não conseguiu. A voz não lhe obedecia. Escutou enorme barulho de laminas afiadas que se debatiam em guerrilha. Assombrado percebeu que o castelo estava sendo atacado.
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                  Os dias passaram silenciosos no castelo de Lorde Orlando. Gabriel não vira mais a jovem Brigith, ainda que sempre a esperasse despertar no seu posto de observação.
 Podia ver quando a janela de seu aposento se abria mas a esperança de vê-la se frustrava sempre. Soubera através de Manco, que os nobres haviam desistido de tentar compreender o ataque e a morte de Henri II ficara sem explicações razoáveis.

Manco que sempre fora pessoa alegre e expansiva ,havia se tornado pessoa silenciosa e triste. Pouco conversava com Gabriel somente respondendo-lhe algumas indagações .

Naquele dia o Duque Henri I e a esposa Duquesa Celestine viajariam de retorno á sua propriedade na corte. Aprontaram-se as carruagens e as bagagens foram colocadas nas carroças. O Duque saiu do castelo sem cerimonias acompanhado da esposa, e acomodaram-se nas carruagens após breve meneio de despedidas com os rostos. Pouco havia a ser dito. Aquela propriedade havia lhes sido sinônimo de desgraça e sentiam-se desejosos de deixa-la. Nela haviam perdido o seu único filho, Henri II, o seu herdeiro. Não mais haviam esperanças de substitui-lo; há muito esperavam a benção de novos filhos e agora a Duquesa Celestine em idade avançada não mais poderia conceber.
Deixavam para trás a esperança da continuidade do nome de família; para quem deixariam seus títulos. Ali deixavam no castelo de Lorde Orlando, a alegria da família, os ideais, os objetivos. Sentiam-se furtados de toda a felicidade.

Lorde Orlando os olhava deprimido. Aqueles intermináveis dias de luto não soube como consolar-lhes tamanha perda. Desejava poder apagar todo o trágico acontecimento; sentia-se impotente a auxilia-los. Acenou constrangido, desejando-lhes um bom retorno. E num imenso silencio ainda fúnebre os convidados partiram.
Quando os viajantes sumiram na estrada, Lorde Orlando entrou no grande salão e acomodou-se próximo a seus familiares, dizendo-lhes:
-         Sinto-me exausto com esta enorme tragédia. Foram inúmeros dias de suplicio e dor para todos. Não consigo compreender o que houve; como poderei punir culpados?
Respirou profundamente, observando a esposa Joane que o observava silenciosa, e os filhos Anderson, Arthur e Brigith. E depois continuou:
-         Falarei imediatamente a Philip para providenciar a nossa viagem; iremos passar uma temporada na propriedade de Adredanha. Somente assim nos libertaremos um pouco de tão trágico acontecimento.
Sua esposa Joana, fez-lhe um meneio de concordância, e o Lorde Orlando olhou pensativo para a filha Brigith que se encontrava extremamente pálida; dizendo:
-         Em Adredanha poderei reafirmar novo compromisso de matrimonio para nossa filha Brigith! Está com quinze anos e não podemos mais atrasar uma união.
Lorde Orlando levantou-se e caminhou até a um dos vitrais. Todos se mantinham silenciosos escutamdo-o
-         Há muito não retorno á propriedade de Adredanha! haverá muito a ser feito por lá. Retiro-me para dar as ordens a Philip. Providenciem vossas bagagens. Iremos pela manhã.
Prontamente o Lorde saiu em caminhar apressado. Brigith não conseguia erguer-se; sentia-se atônita e temerosa com os dizeres de seu pai.

Haviam passado dezesseis dias desde a noite que passara com Gabriel. Sentia-se saudosa de seu rosto e de seu olhar. O coração pulsava-lhe forte nas doces lembranças. Sentia enorme vontade de vê-lo, os longos dias de luto tinham sido restritos a orações de vigília, raramente saíra de seu aposento. E agora não tardariam a ir para uma propriedade que ficava a muitos dias de viagem.
Sentia-se fraca e febril. Olhou os seus irmãos mais novos que dialogavam animadamente sobre o retorno a uma propriedade que já conheciam. Ela no entanto nunca lá fora. Olhou também para sua mãe, sempre pensativa e distante ou  inumares vezes ausente do convívio familiar. Falou-lhes:
-         Não escutaram o que o Senhor vosso pai falou? Deverão recolher-se a vossos aposentos e escolher com vossos serviçais o que desejam levar na viagem.
Brigith num impulso encheu-se de coragem e pediu-lhe:
-         Senhora minha mãe, gostaria imensamente de poder sair um pouco. Sinto falta do verde, do lago...não poderia cavalgar um pouco?
A mãe a olhou carinhosamente.
-         Poderás sair um pouco minha filha; mas deverás levar teus irmãos contigo. No entanto não devem se demorar, a refeição não tardará a ser servida.
Anderson e Arthur sentiam-se felizes pela boa idéia de sua irmã. Teriam liberdade temporária. Aproximaram-se radiantes de Brigith. Anderson com seus treze anos de idade, era um rapaz alto e robusto e Arthur com seus dez anos de idade, era um rapaz alto mas franzino.

Os três saíram da sala,  despedindo-se da mãe que novamente recolhia-se ao seu aposento. A nobre dama pensava o que seria de si ou de seu esposo se fosse um dos seus filhos o atingido e isto lhe deu enorme aperto no peito. Colocou-se em oração, agradecendo a Deus a benção dos filhos amorosos e do marido carinhoso. Sentia que nada lhe faltava e era feliz.
Na entrada do castelo, Brigith respirou profundamente. Avistou as colinas, as campinas verdejantes e o rio que corria veloz. Respirou profundamente o ar puro que lhe chegava numa brisa fresca. Os seus irmãos apressaram-se a pedir aos serviçais que lhe trouxessem os cavalos. Iriam até o lago. Um dos serviçais entrou apressado no celeiro:
-         Manco, os meninos desejam passear. Providenciem os cavalos para os levar até o lago.
Gabriel que ali também estava pensativo, deu um sobressalto.
-         Devemos providenciar que montarias?
-         O cavalo do Senhor Anderson, do Senhor Arthur e da Senhorita Brigith!
Gabriel imediatamente colocou-se a selar as montarias. O coração pulsava-lhe fortemente. Sentia enorme saudade de Brigith, mas como falar-lhe a sós na companhia dos irmãos. Manco observava-o silencioso e quando o servo se afastou falou-lhe:
-         Gabriel, escuta bem o que te falo; agistes mal; feristes e matastes um semelhante; trouxestes a desgraça e dor a  pais inconsoláveis; Eu fico te observando e percebo que não te arrependestes. Sou como um pai para ti, eduquei-te e criei-te carinhosamente. Não deve um homem almejar objetivos aniquilando os do próximo. Estás errado e temo por ti. Compreende o mal que fizestes e redime-te de tua culpa reparando-o; e pedindo perdão a Deus, por atos tão impensados e injustificáveis.
Gabriel parecia não ouvir nada do que lhe dizia Manco.  Estava  distante em seus pensamentos, mas Manco ignorando continuou:
-         Em tua persistência em conduta errada meu filho, prevejo desgraça e imenso sofrimento para ti.
Gabriel voltou-se contrariado e dizendo hostilmente:
-         Manco, eu a amo. É a mulher da minha vida. Como posso eu permitir que se case com outro?
-         Não precisavas matar por isto? Se te amar como a amas, haverá de largar o titulo e a riqueza para acompanhar-te Gabriel!
-         Falas de fuga, velho?
-         Digo-te Gabriel, que o mais sensato é fugir e assumir o vosso amor distante, do que se rebelar contra o mundo e matar todos que ambicionem separar-vos. Se te ama igual me dizes, o aceitaria.
-         Pensarei no que me dizes Manco, mas deixai-me com meus afazeres que tenho muita pressa.
Gabriel, novamente entregou-se a seus pensamentos, cuidando velozmente dos animais. Rapidamente os cavalos eram encaminhados ao castelo.
Gabriel avistou Brigith e sentiu que o corpo lhe estremeceu. Ainda vestia o negro, mas os cabelos cacheados realçavam-lhe a beleza assim como a pele extremamente clara.
Sentia enorme vontade de correr e abraça-la. Aproximando-se os olhares se entrelaçaram em cumplicidade e amor fiel. Com a ajuda dos servos os três nobre montaram. Em extrema angustia a vontade de falar-lhe o estrangulava e sabia que a jovem também desejava faze-lo, o vira em seus olhos.

Vendo-os  distanciarem-se sem a companhia de serviçais, Gabriel rapidamente dirigiu-se ao celeiro. Montou num veloz cavalo e afagou-lhe carinhosamente o pelo. Manco prontamente tentou evitar que saísse:
-         Gabriel não vás,  precisar dominar os sentimentos e não ser dominado por estes!
Mas Gabriel não desejava escuta-lo, e saiu vagarosamente do celeiro percebendo que os três nobres já se distanciavam nas colinas. Um serviçal correu em sua direção e falou-lhe:
-         Gabriel, aonde vais ?
Gabriel respondeu-lhe prontamente.
-         Irei ás colinas pegar algumas ervas para Manco.
O serviçal manteve imóvel próximo a si:
-         Philip ordenou que preparem a viagem da família para amanhã cedo. Irão para a propriedade de Adredanha . Necessário que se aprontem as três carruagens e duas carroças.
Gabriel sentia-se irritado com a presença do serviçal, que lhe dava ordens. Indagou enfurecido:                                            
-         Quem vai ?
O servo humilde prosseguiu:
-         Vão todos da família, alguns servos do castelo e alguns guerreiros.

Gabriel explicou-lhe que não se demorava e colocou-se em galope apressado sob os olhares de Manco e do servo. Sentia uma enorme ira invadir-lhe o corpo. Indagava-se porque todos intencionavam separar-lhe de seu grande amor. Porque  não poderia vive-lo com serenidade. Rapidamente Gabriel avistou os três e reduziu o galope para não ser visto. Aproximavam-se do lago. Chegando lá, os rapazes e apearam das montarias e sentaram-se próximos ao lago. Brigith parecia triste e tensa,tambem havia apeado mas andava continuamente de um lado para o outro. Gabriel resolveu também apear da montaria, e se ocultar em alguns arbustos.
Os pensamentos lhe eram velozes e confusos. Sabia que precisava adiar aquela viagem. Percebeu que os rapazes haviam se levantado e distanciavam-se dos cavalos, assim como Brigith.

Rapidamente e sem pensar nas conseqüências, Gabriel se aproximou do cavalo de Anderson e soltou-lhe a cela. Retornou para trás dos arbustos e lá permaneceu. Brigith caminhava silenciosamente próximo aos irmãos que brincavam continuamente.



O sol já alto ia quando os três resolveram retornar ao castelo para a refeição. Montaram nos seus cavalos e Anderson não percebeu a cela solta.
Gabriel também montou, mas foi em sentido oposto subindo as colinas para pegar as ervas que lhe eram a desculpa aquele tempo ocioso. Brigith, e Arthur desciam as colinas num galope apressado, quando perceberam que Anderson era violentamente arremessado para longe do cavalo.

A forte queda o fez rolar consecutivamente no campo verdejante. O cavalo livre do peso, continuou veloz em direção ao castelo. Brigith extremamente assustada, cavalgou com Arthur  em direção do irmão. Apeou da montaria com agilidade e abaixou-se próximo a Anderson.
-         Estás bem Anderson?
O rapaz esguio e robusto, se encontrava inconsciente e completamente contorcido. Brigith desesperou-se.
-         Arthur, depressa vá até o castelo e chame o Senhor nosso pai. Eu ficarei aqui com Anderson.
Enquanto Arthur fazia com brevidade o que lhe pedira, Brigith sentiu que as lágrimas lhe afloravam intensas nas suas feições. Sentia que seu irmão não estava bem.
Logo chegou o seu pai, acompanhado de Arthur e Philip.
-         O que houve minha filha ?
-         Eu não sei Senhor meu pai; ele caiu do cavalo; rolou varias vezes no campo e agora não acorda.
O Lorde Orlando aproximou-se do filho Anderson, que se mantinha desacordado e contorcido e passou-lhe a mão no rosto dizendo:
-         Responde-me meu filho...acorda !
Porem o jovem, não mostrava qualquer sinal de vida. Então o Lorde com auxilio de Philip, o colocou cautelosamente no dorso de um dos cavalos. O menino Arthur aguardaria alguém lhe pegar, enquanto Brigith, o Lorde, Philip e Anderson desciam as colinas num galopar lento.

No castelo Anderson foi imediatamente levado aos seus aposentos. Brigith correu a abraçar a sua mãe e contar-lhe o acontecido. o Lorde Orlando colocou o filho no leito e ordenou a Philip que trouxesse o médico que já chegara a alguns dias de Adredanha. Philip logo retornou com o médico. Um senhor de imponente porte. Após explicar-lhe o acontecimento, o medico colocou-se a examinar cautelosamente o adolescente. Os arranhões eram dispersos nos braços e face, mas eram-lhe superficiais. Não haviam lesões maiores aparentes. Balbuciou:
-         Nenhum mal maior parece ter ocorrido; tragam-me os sais.
Imediatamente um servo o atendeu, entregando-lhe um pequeno vidro. Com o liquido o médico fez Anderson despertar.
-         Sentes-te melhor rapaz?
Anderson olhou ao redor meio confuso e o Lorde Orlando aproximou-se dele preocupado.
-         Tivestes uma grande queda meu filho; caístes do cavalo; lembras-te?
Anderson falou meio entorpecido.
-         Sim  senhor ,meu pai, lembro-me da queda; mas não sei porque ocorreu!
-         Sentes-te bem meu filho? Algo te dói?
-         O corpo não me dói, somente sinto enorme dor na face.
O médico tentando não mostrar sua estranheza, falou-lhe:
-         Arranhastes tua face, por isto sentes dor...mas os braços estão igualmente feridos nada sentes?
Anderson olhou-o confuso e dirigindo-se ao pai falou:
-         Nada sinto meu pai, nada mais me dói !
Mas logo o rapaz se assustava também quando observou que o pai lhe segurava a mão e não o sentia, nem mesmo conseguia movimenta-la.
-Senhor meu pai, eu também não consigo mover minha mão!
O médico concluiu, problema com os ossos ocorrera. Pouco a pouco foi tocando o corpo do jovem abaixo do pescoço e ele nada sentia. A sensibilidade lhe estava restrita ao rosto e pescoço. Anderson não poderia mais mover-se.

O médico angustiava-se em como contar isto ao Lorde, e aquele jovem tão cheio de vida. Encorajou-se e chamou o Lorde Orlando, dizendo-lhe baixo para que Anderson não escutasse:
-         Lamento dizer-lhe Senhor Lorde Orlando, mas tudo me leva a crer que seu filho nunca mais se movimentará ;do pescoço para baixo está completamente paralisado. Creio que quebrou os ossos da espinha dorsal na queda.
O Lorde atônito esbravejou:
-         Que dizes tu? Não posso crer! Meu filho não mais andará! Estás errado!
-         Senhor Lorde, sei que é difícil aceitar , mas o senhor mesmo poderá verificar isto.
O Lorde Orlando completamente transtornado, ordenou que Philip tirasse o médico do aposento e que lhe trouxesse Manco.
-         Que há senhor meu pai...porque discutias com o médico? Já estou bem !

Anderson tentava compreender a ira de seu pai, enquanto Philip caminhava apressado ao celeiro.
-         Onde está Manco?
Indagou o capataz a Gabriel que acabara de retornar com as ervas e agora tirava as celas dos cavalos dos nobres.
-         Manco está próximo as carruagens limpando-as para a viagem da nobreza.
Philip rapidamente caminhou até avista-lo e gritou:
-         Manco, o Lorde manda chamar-te urgente.
O capataz estava nervoso e gesticulava muito. Manco ouvindo-o correu em sua direção.
-         Que deseja senhor Philip.
-         O Lorde ordenou que te levasse ao aposento do menino Anderson. Leva tuas ervas.
Manco entrou no celeiro apressado e lá recolheu as ervas sob o olhar curioso de Gabriel. E saiu apressadamente rumo ao castelo em companhia de Philip.
 Gabriel então olhou a cela do cavalo de Anderson em suas mãos e suspirou aliviado;com certeza o menino Anderson havia se ferido e isto com certeza lhes atrasaria a viagem como havia planejado.
Manco chegou aos aposentos de Anderson, olhou o menino robusto no leito; percebeu-lhe a face  e os braços feridos.
-         Senhor Lorde, desejas que cuide dos ferimentos?
O Lorde Orlando angustiado suplicou-lhe:
-         O médico já aqui esteve observando meu filho Anderson. Disse-me que o meu primogênito não pode mais andar, ou movimentar o corpo. Quero que me digas que isto é um enorme equivoco; um absurdo!
Anderson, que agora escutara o motivo do nervosismo de se pai, balbuciou assustado:
- Senhor meu pai, sinto-me bem. Posso levantar-me para que não te irrites mais!
Mas Anderson contorcia a face e o pescoço, mas o corpo mantinha-se inerte. Ambicionava movimentar os braços, as mãos, os dedos, mas o corpo não lhe obedecia. Tentou erguer as pernas, sentar-se; mas o comando mental não lhe era suficiente. Anderson sentindo-se impotente repentinamente entrou em convulsiva crise de choro. Manco aproximou-se:
-         Que um dos serviçais pegue estas ervas e lhe faça rapidamente um chá com elas.
O Lorde ordenou que assim fosse feito e Manco continuou.
-         Necessário é que se acalmem! Agora cuidaremos dos ferimentos.

A voz de Manco saia ternamente fraternal e solidária com a circunstancia e isto trazia enorme paz, apesar do momento ser extremamente doloroso e deprimente.
Anderson chorava ininterruptamente e o Lorde Orlando prostrara-se numa poltrona.
Compreendia agora a grande verdade. Seu próprio filho atestara a sua incapacidade, de movimentar-se. O servo retornou com o chá e Manco deu para que Anderson bebesse boa quantidade deste. Colocou o restante em outra xícara e ofereceu ao Lorde para que também o tomasse, o que o nobre aceitou prontamente.
Os seus olhos também estavam repletos de lagrimas e Manco sentiu enorme piedade do pai que daquele dia em diante veria seu primogênito dependente de todos. Anderson com uma boa quantidade de chá finalmente dormiu e o Lorde sentiu-se
 mais forte e ergueu-se ; precisava caminhar até o salão para contar a infelicidade
aos demais familiares que  aguardavam noticias.

A  maldição parecia estar naquele castelo ; primeiro  Henri II , noivo de  Brigith, fora atacado misteriosamente e falecera; agora seu filho ,o seu sucessor, caíra do cavalo e só  teria vida em sua cabeça.

Enquanto Lorde Orlando, contava amargurado o que acontecera aos seus familiares ,no quarto Manco aproveitava a ausência do nobre para indagar ao servo:
-         Sabes o que aconteceu?
-         Sim manco! O menino Anderson caiu do cavalo , rolou varias vezes na colina
e acordou aqui. agora não se movimenta mais.
-         Sabes porque caiu?
-         Não Manco; mas disse um outro servo, que viu a cela solta quando o cavalo se aproximou do castelo.
Manco entristeceu, não desejava acreditar que seu menino Gabriel tinha algo haver com o acidente. acabou de limpar os ferimentos e ausentou-se do aposento; pedindo ao servo que ali ficasse de vigília. Manco apressou-se a descer a  enorme escadaria.

Podia ouvir em meio ao silencio do salão , choro angustiado dos nobres . saiu apressadamente porque aquela tristeza lhe fazia grande mal. Somente um nome vinha a sua cabeça "Gabriel". O sol já declinava na propriedade quando Manco caminhou receoso ate o celeiro. Avistou Gabriel deitado no feno .
-         Não mais vão viajar Manco; Anderson feriu-se?
-         Como sabes que Anderson se feriu? Que fizestes Gabriel? Que monstro te tornastes?
-         Nada fiz Manco. eu precisava evitar que viajassem! Estas nervoso porque feriu um pé? Ou foi um braço?
Manco prostrou-se na ironia, sentou-se no feno e chorou.
-         Não me digas Manco, que morreu também?

Manco nada mais disse em sua dor deitou-se no feno e  ficou , encolhido na dor imensa que sentia e na enorme piedade que sentia de Anderson e daquela família.

Gabriel  sentiu-se  angustiado, sem compreender a dor de Manco.
Caminhou ate o castelo  e nele  ficou sabendo do destino de Anderson.  Compreendia agora a angustia de  Manco, e o seu sofrimento .
 Desejava ardentemente falar-lhe , não pretendera o feri-lo tanto; só retardar-lhe a viagem.

Correu ao celeiro , onde  admitira sua culpa tão irônica e friamente a seu tão grande amigo.
Olhou Manco imóvel no feno, aproximou-se; ainda uma lagrima molhava-lhe a face...  A secou com seus dedos e murmurou:
-         Perdoai-me Manco, não foi minha intenção causar-lhe tanto mal!

Mas o  Manco não mais podia ouvi-lo. Na dor de pai, mas na paz de uma vida  honrada e digna ,ele desligara-se de seu corpo envelhecido.

Gabriel percebendo seu falecimento, debruçou-se sobre seu corpo e chorou convulsivamente pela perda de pessoa que lhe era tão querida.

                       Passaram-se inúmeros dias de dor, no qual o castelo novamente parecia vestir-se de negro na infelicidade de todos.
Mas novamente a vida expandia continuidade. No castelo todos agora enfrentavam com seriedade e brandura a nova vida de Anderson e o aceitavam como um desígnio de Deus.
Um forte servo viera da propriedade de Adredanha para estar sempre ao seu lado; auxiliando-o em tudo que necessitasse. Anderson tornara-se um rapaz rancoroso e deprimido. Mergulhava em pensamentos e se frustrava com a vida que não podia ter. Freqüentemente agredia o servo, mas este o compreendia e lhe perdoava as agressões, sempre lhe sendo gentil e prestativo. Um verdadeiro amigo, que desejava vê-lo bem e tentava de todas as formas fazer a sua vida mais feliz.  O servo Job sabia ler e diariamente lia-lhe longas estórias tentando distrai-lo. Também o carregava até uma poltrona que fora colocada próximo á janela, para que podesse ver dali a vida no campo. Mas isto parecia deixar-lhe mais deprimido e irritado.

Anderson somente se acalmava e apresentava mais serenidade quando Brigith o visitava em seu aposento; então sorria triste e exclamava:
-         Querida Brigith, porque demorastes tanto ?


                Brigith emagrecera em demasia. A face se apresentava cada dia mais magra e pálida. Passara-se um mês do fatídico acidente de Anderson, e neste período a jovem vivera exclusivamente para lhe dar atenção. Conviver com seu irmão e suas enormes limitações a deixavam amargurada e triste. Sentia pouca necessidade de alimentar-se e não mais ansiara sair a passeios. Frustava-se em desejar ardentemente ergue-lo daquele leito e devolver-lhe os prazeres de sua juventude mas não poder faze-lo. Parecia que a vida de Brigith havia se enclausurado nas limitações de seu irmão tão querido. Por vezes pensava no servo Gabriel, mas esse sentimento proibido, lhe feria em enorme sentimento de culpa. Conformaria-se com o  destino que o seu pai determinasse para si, tal qual Anderson deveria se conformar com o que Deus havia lhe determinado.

Gabriel no celeiro agia como uma violenta fera enjaulada. Caminhava de um lado para o outro impacientemente. Desde a morte de Manco não tivera mais com quem conversar e compartilhar a sua angustia e o imenso sofrimento de se manter distante daquela que tanto amava. Havia se passado um mês e meio desde que passara a noite com Brigith, mas em suas lembranças o acontecimento se repetia em constantes e ternas imagens que lhe ampliavam a extrema saudade. Fizera tudo para te-la mais próximo, mas a vida os tinha  distanciado ainda mais. Sem os privilégios que lhe eram concedidos, em função de ser o tutelado do conceituado Manco, Gabriel passou a ser tratado como um servo igual aos demais. Philip fazia questão de distancia-lo cada vez mais do castelo impondo-lhe trabalhos nos campos de cultivo. Não mais era o rapaz dócil e meigo. Se tornara um adulto nervoso e hostil que repudiava todos os seus companheiros de lida. Sabia através dos servos do castelo, que Brigith dedicava os seus dias a Anderson, e enciumado amaldiçoava-o.

Desejava-lhe a morte para que Brigith novamente voltasse aos seus passeios e somente assim poderiam se encontrar. A imensa paixão o destruía.




















                       O tempo passou impiedoso e cruel sobre os sentimentos do servo Gabriel.  Aproximava-se o inverno. O vento frio soprava violentamente em todas as direções. As colinas se esbranquiçavam com uma névoa fina. Os animais haviam sido recolhidos e  a lida nos campos se tornava ficava restrita. Maior era o tempo ocioso e a solidão aumentava para Gabriel. Quatro meses intermináveis tinham se passado desde aquela noite com Brigith; parecia-lhe uma eternidade sufocante.

Despertava para os dias na anisa de que surgisse uma oportunidade de vê-la e adormecia em febris pesadelos. Via-se em árduas lutas corporais com Henri II que o acusava de assassino. Podia ver-lhe a face jovial, o corpo másculo mas frágil com as chagas que provocara. Nos sonhos sempre o derrotava e saia vencedor, então Brigith surgia sorridente mas não conseguia toca-la. Acordava freqüentemente nervoso e irado.

-         Gabriel acorda!
A voz que o despertava de seus pensamentos, era grossa mas amigável.
-         Gabriel estou atrapalhando?
Gabriel surpreso rapidamente ergueu-se do feno onde se deitara para pensar melancólico, e observou o rapaz robusto.
-         Conheces-me Gabriel?
-         Sim, sei que és o servo que veio da propriedade de Adredanha para servir Anderson.
-         Chamo-me Job!
O silencio imperou por alguns instantes no celeiro. O servo Job parecia timidamente encabulado em dizer-lhe algo. Gabriel prontificou-se a dialogar, desejava saber noticias de Brigith.
-         Que desejas Job ?
O rapaz robusto sentou-se comodamente no feno e falou a Gabriel que também se sentava a seu lado.
-         Gabriel, soube que aprendestes com o velho Manco as artes de curar!
Gabriel sentia-se entremente intrigado mas mostrou-lhe indiferença.
-         Sim Job, sei faze-lo. No entanto sabes que no castelo tem o médico que de todos tem cuidado com primor, desde o falecimento de meu tutor.
-         Sei disto Gabriel; mas necessito de teu auxilio.
Gabriel mostrou-se irritado.
-         Porque não vais ao médico; porque o temes?
-         Acalma-te Gabriel. Não sou eu quem deseja teu auxilio; preciso ajudar alguém que se sente mal.

O servo Gabriel mais incomodava-se ainda. A figura esbelta de Anderson surgia-lhe na mente.Com certeza Job ali tinha vindo para pedir auxilio para este.
-         Porque não vais tu ao médico Job, e lhe pedes auxilio para essa pessoa?
-         Gabriel, não poderei faze-lo! Sente-se frágil em demasia; tem náuseas e vômitos; por vezes tem vertigens e desmaia; tem receio que seus pais tomem conhecimento de suas indisposições porque não deseja deixa-los preocupados...

Gabriel havia se levantado e caminhava de um lado para o outro impacientemente. Falou-lhe Job suplicante:
-         Se seu pai Lorde Orlando souber do mal que sente, se preocupará em demasia, por isto vim aqui pedir-te auxilio. Consegue-me  por favor algumas ervas que lhe façam sentir-se melhor nas indisposições e eu lhe farei o chá, assim não dar-te-ei mais trabalho

Gabriel parou pensativo próximo a um cavalo e lhe alisou o pelo negro macio. Concluía rapidamente que Anderson sentia-se mal e não desejava preocupar seus pais, por isto havia enviado seu servo ali. Sentia que lhe era a oportunidade que a vida lhe ofertava de afasta-lo definitivamente de Brigith. Falou convicto:
-         Te ajudarei Job. No entanto preciso ir As colinas para pegar mais ervas. Quando escurecer virás aqui e eu te darei o chá. Com certeza tomando-o pela manhã estará bem melhor.
Job sentiu-se profundamente satisfeito e agradeceu-lhe saindo a caminho do castelo.


                 Gabriel da simpatia e amizade que apresentara a Job, alterou complemente o semblante, mostrando-se vil e sarcástico em seus pensamentos. Montou  rapidamente e saiu rumo as colinas, onde colheu algumas ervas. Retornando finalmente ao celeiro as colocou num balaio, e em suas mãos permaneceram somente aquelas que usaria para fazer o chá.
Estas eram restritamente usadas em animais enfermos para mata-los sem sofrimento.
Gabriel caminhou vagarosamente até á lenha,  acendeu-a, e enchendo um pequeno tacho com água a colocou para ferver.  Meticulosamente inseriu nesta as ervas e sorriu satisfeito. Quando o chá ficou pronto Gabriel cuidadosamente ocultou-o próximo ä lenha para que nenhum cavalo ousasse bebe-lo.
O frio era enorme e resolveu fazer um chá de hortelã para si e sentou-se no feno a desgusta-lo. Os pensamentos eram velozes em sua mente; logo o servo Job surgiria para pegar o chá que lhe havia prometido; prontamente o levaria para Anderson; e este o tomaria todo ansioso por melhorar de sua indisposição.

Finalmente pela manhã não haveriam mais impecilhos aos passeios de Brigith e ao seu tão ansiado encontro com ela. A vida voltaria a ser bela como antes. Libertaria a sua amada da preocupação com o irmão invalido. Os pensamentos lhe eram euforicos e febris. Bastariam algumas horas para o fato; alguns dias para o luto; e finalmente poderia vê-la cavalgando radiante. Brigith seria finalmente só sua!  Quando percebeu que a noite já surgia imponente, Gabriel pegou a bacia oculta na lenha e a colocou para esquentar. Aquecendo as mãos e olhando as brasas que ardiam, recordou-se das palavras de Job " Sente-se frágil em demasia...tem náuseas e vômitos...por vezes desmaia..." Gabriel respirou profundamente e murmurou para si "com certeza o infeliz estará melhor pela manhã "...

O cheiro era forte e despertou Gabriel de seus pensamentos. Tirou o tacho do fogo, e verteu o chá num grande caneco, repentinamente, as palavras de Manco surgiram-lhe na mente: "...não deve um, homem almejar objetivos aniquilando os do próximo. Éstas errado e temo por ti. Compreende o mal que fizestes e redime-te de tua culpa corrigindo-o e pedindo perdão a Deus...." Gabriel sentiu um calafrio e quase deixou cair a caneca fumegante de suas mãos.

Job entrou no celeiro apressado, pois temia ser visto..
-         Esperei escurecer, como combinamos; está pronto Gabriel?
Gabriel rapidamente entregou-lhe a caneca sem vacilar.
-         Job diz-lhe que beba tudo enquanto estiver quente. Se sentirá mais forte pela manhã...que durma com Deus!
O servo extremamente agradecido beijou-lhe as mãos como a mais humilde das pessoas e afastou-se rapidamente na penumbra da noite em retorno ao castelo.


                   Sentia-se imensamente feliz em poder auxiliar Brigith. Naqueles três meses que haviam cuidado juntos de Anderson, surgira uma solidariedade fraterna entre ambos. Se tornaram grandes amigos e confidentes. Brigith demasiadamente enfraquecida confidenciara-lhe os seus temores e as suas angustias, pois esperava um filho e entrava no quarto mês de gestação.  Sentia o ventre dilatando-se e o disfarçava nos longos vestidos e ficando restrita ao seu aposento e ao de Anderson.
Evitava o auxilio da serva Lana para trocar as vestimentas, e pedia a esta que dissesse freqüentemente a seus pais que não desceria para o convívio familiar preferindo ficar em seu aposento ou no do irmão. A família respeitava-lhe a opção.

O castelo se tornara sombrio.
Lorde Orlando saia a cavalgar o dia inteiro. Evitava ficar no interior do castelo. Raramente visitava seu filho Anderson. Sua invalidez o feria em demasia. Sua mãe
Joane também vivia reclusa e poucos a viam.
O seu irmão Arthur passava o dia aprendendo as artes da guerra com um mentor.

Mas como as indisposições eram continuas  precisava de auxilio sem que seus pais tomassem conhecimento e o pediu a Job.
 Nas longas conversas com o servo Job enquanto Anderson dormia, Brigith não lhe confidenciara quem era o pai da criança. Job respeitava-lhe o silencio e não lhe fazia indagações.

O servo chegou ao aposento de Brigith e bateu na porta levemente:
-         Quem é?
-         Brigith sou eu, o servo Job!
Brigith abriu a porta do aposento prontamente. Muito abatida pediu ao amigo de entrasse sem demoras.
-         Trouxe-te o chá, deves tomar enquanto estiver quente. Gabriel disse-me que pela manhã estarás bem melhor e te sentirás mais forte!
A jovem olhou-o surpresa, aquele nome fizera o seu corpo estremecer:
-         Disseste Gabriel? Porque não pedistes ao médico do castelo?
-         Não poderia faze-lo Brigith, me indagaria; desejaria saber quem estivesse doente; e se não respondesse talvez me denunciasse a teu pai...o servo Gabriel aprendeu a arte de curar com o velho Manco...confia e toma tudo!
Brigith pegou a caneca e a colocou na cômoda próxima a seu leito e deitou-se.
-         Senta-te aqui Job, nesta poltrona próximo a mim.
Job sentou-se . Sentia-se um irmão mais velho de Brigith  e preocupava-se com seu futuro.
-         Como direi a meus pais isto?
Job acariciou-lhe os cabelos mal cuidados, que mostravam o longo tempo de reclusão e encorajou-a:
-         Querida Brigith, primeiro deves melhorar um pouco. Anderson começa a desconfiar de tua ausência. Indaga-me se adoecestes. Depois acharemos juntos uma solução para tudo, certo?
Brigith agradeceu-lhe o carinho com um olhar. Job pegou a caneca e deu-lhe para que tomasse o chá. Brigith tomou rapidamente o chá ciente de que este lhe abrandaria as indisposições. Job pegou a caneca e afagando-lhe os cabelos despediu-se e saiu do aposento.

Brigith acariciou o ventre e murmurou baixinho "meu filhinho, contarei breve a teu pai Gabriel, e ele nos ajudará a resolver tudo isto...poderemos viver bem e felizes longe daqui...teu pai é um homem bom e justo..." e sem terminar o que dizia Brigith adormeceu em sono profundo e mortal


































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