(Esta é uma obra mediunica; ainda não foi revisada em erros de gramatica ou ortografia; porem compartilho a sua essencia com muito amor no nobre obrar de Irmãos Espirituais)
GABRIEL
V PARTE
Equipe Nosso Lar
medium maria
medium maria
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V Parte - No
Hemisfério do Arrependimento
Repentinamente o desconhecido começou a recuperar a consciência, abriu
os olhos meio confuso e percebendo aquela senhora e as duas crianças
observando-o atentamente, indagou com dificuldade:
-
Onde estou? Está fazendo muito frio! Estamos todos molhados!
Carol ainda não estava certa de quem ele realmente
era, mas o amor intenso que existe em
todas as mães, que desejam proteger os seus filhos, se expandia em seu coração,
testemunhando cada palavra que ouvira de Sara , e apesar de suas imensas falhas
e crimes, desejava auxilia-lo. Falou--lhe controlando a profunda emoção que
sentia em seu interior:
-
Senhor, estamos no meio de uma tempestade; e os fortes ventos levaram o
telhado de minha casa. Precisamos sair daqui e abrigar-nos em lugar mais seguro. Consegues andar?
O desconhecido levantou-se, sentando-se na cama,
ainda coberto pela manta umedecida . Sentia-se bem. O desconhecido não
conseguia recordar-se de nada.
-
Para onde iremos senhora? Onde estão as minhas roupas? Preciso
vestir-me!
Carol lembrou-se do traje que não tivera tempo de
lavar, pegou-o pedindo-lhe que se vestisse breve; estariam-o aguardando do lado
de fora.
O desconhecido prontamente se vestiu, saiu da
pequena casa e acompanhou-as sob a
chuva constantes e os ventos
imensamente fortes.
Carol observou que o leito do rio avançara
demasiadamente para perto de sua casa, e realmente não tardaria a leva-la.
Sentiu-se entristecida," tanto tempo ali ficara em proteção." Sara
disse-lhes:
-
Sejam rápidos e me acompanhem!
A noite descia agora veloz e as pesadas nuvens
escuras faziam ainda maior escuridão. Andaram aproximadamente duas horas consecutivas
até que Sara ofegante, disse-lhes eufórica:
-
É aqui que ficaremos!
Carol olhou incrédula para uma enorme abertura na
face de um enorme rochedo.
-
Poderemos entrar. Meu pai diz que aqui ficaremos aquecidos na nevasca!
Carol disse-lhe assustada:
-
Não temos fogo e deve estar escura; deve ter bichos!
Silvio disse que saberia voltar á casa para pegar a
lenha mas Carol não o consentiu. O tempo piorou em demasia e o frio se fazia
insuportável; impelidos por seus instintos entraram rapidamente, recolhendo-se
na gruta imensamente escura mas confortavelmente quente.
Não conseguiam ver-se tamanha era a escuridão e
impulsivamente deram-se as mãos. Sara falou-lhes então com a voz embargada de
receio, que ecoou naquele vão mostrando-lhes que este era extenso.
-
Meu pai precisava ir, não está mais aqui!
Carol sentiu a mão de Sara extremamente fria e tremula; ainda que também
tivesse múltiplos receios, sabia que era necessário manter-se calma e
passar-lhes segurança. Falou-lhes:
- Devemos tatear o solo e acomodar-nos; será uma
longa noite!
Silvio balbuciou nervoso.
-
Nada vejo, sinto-me completamente cego nesta escuridão absoluta; deve
ter cobras neste recinto fechado!
Carol desesperada omitiu seu próprio pânico para
falar-lhe.
-
Também nada vejo Silvio, vamos sentar-nos todos juntos, Deus nos
protegerá!
O desconhecido de mãos dadas com Sara e Silvio
também sentou-se e indagou confuso:
-
Nada compreendo ; sinto-me confuso! Onde está o pai dessa criança que
não vi em momento algum no trajeto até aqui? Com quem falava afinal? Diz que se
foi mas parece-me que em momento algum esteve conosco!
Carol imensamente impressionada também com tudo,
tentou tranqüilizar o desconhecido dizendo-lhe:
-
Senhor, precisamos ter
paciência e sermos tolerantes uns com os outros, somente o tempo nos explicará
inúmeros acontecimentos; o importante é que finalmente estamos abrigados,
graças ao Bom Pai . Aqui está quente e podemos ouvir que o vento aumenta lá
fora e consequentemente o frio.
Dizendo isto Carol lembrou-se que nada haviam comido
naquele imenso dia. Procurando trazer tranqüilidade a todos e a si mesma,
começou a cantar baixinho e todos silenciaram escutando-a. Havia se passado
algum tempo quando Carol indagou ao desconhecido:
-
Como se chama o senhor?
O desconhecido tentava clarear os seus pensamentos.
As imagens que lhe vinham á mente, clareando-o no recinto imensamente escuro,
mostravam-no cavalgando imponente; mas repentinamente o cavalo assustara-se com
algo e com um pinote o jogara no chão. Lembrava-se ainda que batera
violentamente a cabeça no chão, mas levantara-se rapidamente percebendo a
enorme cobra que assustara o cavalo. Montara agilmente se afastando dela...nada
mais conseguia se lembrar. Disse-lhes:
-
Não sei como me chamo; não lembro quem sou!
O desconhecido contou-lhes então de tudo o que havia
se lembrado e Carol também lhe explicou como chegara á sua casa desacordado e
com muita febre.
-
Sinto que a cabeça me dói violentamente e passando a mão nesta, percebo
enorme inchaço!
Carol e Silvio haviam o examinado, mas não tinham
verificado-lhe a cabeça. Carol interrompeu o silencio.
-
Trazias um imenso arco, flechas , facões e uma pequena bolsa com
algumas frutas silvestres; isto te faz lembrar de alguma coisa?
O desconhecido fez enorme pausa tentando recordar-se
de algo mais, mas as cenas que lhe vinham á memória eram sempre as mesmas , da
queda violenta que tivera em função da cobra que se atravessara no seu caminho.
-
Não senhora, somente as imagens da queda se repetem!
-
Com certeza lembrarás amanhã...precisamos tentar repousar um pouco!
Disse Carol a todos, sentindo-se mais calma e mais
segura. Todos silenciaram e ainda que o medo da escuridão fosse imenso,
escutando possíveis morcegos inquietos sobre suas cabeças e grunhidos de bichos
no recinto, conseguiram repousar, exaustos pelo imenso cansaço.
A tempestade de neve
cobria as muralhas do castelo de enorme veste esbranquiçada. Ventos ainda muito
fortes invadiam o pátio interno e debatiam-se violentamente contra os vitrais
ainda intactos. Os servos acatando instruções de Lorde Arthur haviam ocupado os
imensos salões luxuosos do castelo e lá estavam aquecidos e protegidos da
continua tempestade. Também os animais foram levados para áreas cobertas nas
quais se apertavam, mas manter-se-iam vivos .
Ricardo fora para o pavilhão dos doentes e percebia
que eles morriam gradativamente. Não havia um só um enfermo, que escapasse da
morte. O medico ainda que se sentisse impotente sem poder lhes curar,
animava-se porque mais ninguém tinha adoecido depois das fortes chuvas e
ventos. Somente dez servos ainda se encontravam ali. Ricardo extremamente
benevolente e caridoso auxiliava-os continuamente em suas necessidades. Ainda
que soubesse, que aqueles enfermos não
sobreviveriam, não deixava que lhes faltasse amparo, conforto e solidariedade.
Lana freqüentemente levava as refeições para Linia
que se recusava a sair do seu aposento, enquanto o castelo fosse abrigo para
impesteados e servos. Perguntava curiosa á sua serva:
-
O que faz meu irmão Arthur?
Lana contendo-se na imensa admiração que sentia por
Arthur, respondia-lhe humilde:
-
O seu jovem irmão, ampara os servos consolando-os na perda de
familiares ou amigos doentes; doa-lhes mantas para que se aqueçam no imenso
frio que está fazendo; alimenta-os bem para se manterem fortes; distrai as
crianças assustadas contando-lhes estórias divertidas... foram acesas as
imensas lareiras nos salões e a claridade e a paz que nestes reina, é
inexplicável...
Linia indignada pensava revoltada nas palavras de
Lana, a respeito de seu irmão. "Trata
os servos como irmãos e me despreza; ignora que lhe sou sangue!"
Enfurecida ordenou que Lana saísse de seus aposentos e esta sentiu-se
extremamente feliz ao abandonar aquele enorme recinto de frieza e poder
retornar ao enorme calor humano que reinava no piso inferior.
Lorde Arthur caminhou na direção do pavilhão dos
servos, onde estavam os doentes e encontrou Ricardo aquecendo-os e dando-lhes
toda a assistência. Implorou-lhe num sussurro:
-
Ricardo preciso de teu auxilio, conversai um pouco comigo! Sinto-me só
e frágil!
O medico caminhou na direção do nobre tão jovem
ainda dizendo-lhe:
-
Olhai ao teu redor Lorde Arthur, não estás só; inúmeros amigos abrigas
em teu lar; te terão fidelidade eterna!
Colocando-lhe a mão no ombro, carinhosamente como
sempre o fazia continuou.
-
Não és frágil, és um cavaleiro forte e um guerreiro decidido! Serás um
importante nobre para este povo! Inúmeros lordes possuem fortunas imensas,
títulos importantes, porte elegante, raça pura, mas falta-lhes a essência!
Arthur olhava-o atento sentindo uma força
revitalizante animá-lo.
-
Lhes falta a nobreza de
caracter! A nobreza do
respeito e do amor, para com todos aqueles que os auxiliam a arar, adubar e
cultivar as suas terras, inúmeras vezes com o incessante suor de seus
corpos e a dor de suas mãos! Falta-lhes a nobreza da Fé!
O lorde comovido abraçou-o humildemente, deixando-se
envolver por pranto triste. Falou com dificuldade.
-
Não tenho mais família...todos morreram!
Ricardo afastou-se firmemente e olhando-o fixamente,
secou-lhe as lagrimas dizendo:
-
Olhai ao redor lorde Arthur e perceberás que uma enorme família te cerca; como podes dizer-me que não
mais a possuis e que estás só... Toda a tua propriedade está sendo destruída
pelas tempestades; haverá muito
trabalho pela frente; muito solo a arar, adubar e plantar novamente. Precisarás
tudo reconstruir! Poderias ser meu filho e humildemente digo-te, não olhes para o que perdestes em tua
vida; tal qual as águas de um rio, a vida segue seu rumo; não te lamentes pelo
que não terá mais retorno... Senhor Arthur; olhai para cada novo dia que o Nosso Pai te concede e vive-o em
plenitude como se fosse o ultimo!
Novamente o lorde envergonhava-se de sua fraqueza.
Secando as próprias lagrimas agradeceu ao medico com um sorriso cândido e
caminhou á cozinha para ver como estavam as providencias para alimentar os
duzentos servos que ali estavam alojados...compreendera nas palavras
determinadas do medico que aquela lhe era agora a grande família.
Setenta e nove servos tinham morrido na terrível
peste e com a morte de seu pai Lorde Orlando, chegara ao cruel numero de
oitenta vitimas fatais da doença. A maior parte destes em fase adulta; pais e
mães de famílias que deixavam os seus filhos órfãos e desamparados; tal qual
ele o era agora!
Após verificar o andamento da imensa refeição Lorde
Arthur, caminhou determinado ao aposento de Linia. Entrou sem cerimonias e após
fechar a pesada porta, sentou-se tranqüilamente em seu leito. Linia que estava
próxima a grande janela, olhou-o intrigada e ali manteve-se silenciosa. Arthur
falou-lhe sereno.
-
A ultima vez que conversamos dei-te dez dias para que te afastasses de
nosso pai e de nossa propriedade; passaram-se os dez dias! Tantas coisas
imprevisíveis aconteceram nestes...
Arthur após uma breve pausa entristecido, continuou
no que precisava dizer-lhe, olhando-a sempre fixamente.
-
Nosso pai faleceu, como único herdeiro de suas propriedades resolvi
reconhecer-te como minha irmã! Agora sou o Lorde Arthur e não te deixarei ao
desamparo e nem te excluirei do direito que possuis sendo uma nobre!
Linia perplexa com a extrema mudança de seu irmão,
não conseguia conter-se e sorriu satisfeita. O lorde prosseguiu ignorando-lhe a
satisfação.
- No entanto Linia, deverás assumir a tua identidade
como filha da serva Amancia e do nobre Orlando...
A fisionomia da jovem transformara-se
repentinamente, se tornando séria e contrariada.
-
Deverás reconhecer-te filha bastarda e fruto de uma relação promiscua;
mas pelo que me foi narrada por meu pai, relação extremosa em afeto
reciproco...
Arthur levantou-se e caminhando em sua direção
continuou falando-lhe firme mas afetuosamente.
-
Deverás assumir quem és e como tal, a conseqüente responsabilidade da
maternidade.
Arthur havia se aproximado o suficiente para olhar
profundamente nos olhos de sua irmã. Percebia-lhe a contrariedade. Voltou
novamente a sentar-se no leito.
-
Sara a tua filha, está te aguardando não muito distante daqui; Assim
que terminarem as tempestades irei buscá-la...
O nobre parou para respirar profundamente e
aproveitou para observar a juventude e a beleza física de Linia.
-
Estou ciente que és a viuva de Job; Um bom e humilde servo que fazia
qualquer coisa para te ver feliz e que em extrema infelicidade imposta por ti,
não resistiu, morrendo repentinamente com uma parada de seu coração...Deverás
Linia assumir também a situação de viuva e se vieres a contrair matrimonio com
alguém, este deverá estar ciente de teu anterior matrimonio e da filha que
possuis...
Arthur novamente levantou-se e caminhou até á porta
para sair, mas voltando-se finalizou.
-
Estas são as minhas condições para que permaneças neste castelo,
usufruindo do luxo, da riqueza, do titulo de nobreza; terás tempo para decidir
se o desejas! Quando terminarem as tempestades virei saber a tua resposta!
Arthur saiu então do aposento e sentia-se
extremamente sereno e forte.
Os dias passaram em
inúmeras tempestades de neve, ocultos no recinto da enorme gruta. Silvio e o
desconhecido passavam os dias a vasculhar o interior daquele recinto e por
vezes saiam na neve para pegar alguma lenha ou providenciar algo para se
alimentarem. Haviam descoberto no interior da gruta um córrego subterrâneo do
qual tiravam água para beber.
Na claridade que lhes chegava dos dias, podiam
analisar-se sujos. Sentiam-se
extremamente enfraquecidos em semblantes emagrecidos e abatidos; o
alimento lhes era escasso e rigorosamente repartido entre todos.
.Mas as noites novamente chegavam-lhes imensamente
escuras e ainda que conseguissem fazer uma pequena fogueira esta lhes iluminava
breve tempo. A lenha era pouca e se fazia necessária a cozinhar por vezes os
pequenos animais que conseguiam pegar. Tão logo esta se consumia, novamente
ficavam completamente cegos ao que lhes acontecia ao redor.
O desconhecido não conseguia se lembrar de sua vida
e auxiliava a todos continuamente extremamente solidário e tentando ser
prestativo.
Naquela manhã Sara havia amanhecido imensamente
febril e em movimentos involuntários convulsivos, delirava. Carol observou-a
preocupada e não tardou a que percebesse grande inchaço em seu tornozelo, mostrando que havia sido
mordida por algum bicho. Percebeu ainda, na tonalidade arroxeada do ferimento
que este a devia ter atacado aquela noite. Desesperou-se temendo a sua
sobrevivência, pois desconheciam a peçonha que lhe fazia piorar a cada instante
que passava.
O desconhecido demasiadamente apreensivo também, ao
ver a meiga menina naquele estado enfermo, carregou-a nos braços delicadamente,
tirando-a da gruta; e sendo acompanhado por Carol e Silvio que o observavam
atentamente.
Estava ardendo em febre, deitou-a na neve para
refrescar-lhe o corpo e passou o gelo levemente em sua face. Fazia-o
subtilmente para não queimar-lhe a pele, mas somente refresca-la.
Depois cuidadosamente analisou-lhe o tornozelo e
sentiu-se mais apreensivo em perceber que o inchaço e o tom arroxeado já se
alastrava para a perna.
Sem conseguir compreender de que parte de sua vida
vinha-lhe a experiência em medicar, sentia que sabia faze-lo!
Estava ciente de que o veneno se alastrava.
Precisava rapidamente tira-lo! Procurou rapidamente na gruta uma pedra pequena
e a afiou com extrema agilidade em outra pedra, fazendo-lhe uma face cortante.
Carol observava-lhe o trabalho primoroso "tal qual devia confeccionar as
flechas".
Próximo á menina novamente, o desconhecido fez-lhe
um pequeno corte no tornozelo e sob os olhares assustados de Carol e Silvio,
colocou-se a sugar o ferimento, e a cuspir continuamente aquele
sangue venenoso.
Durante longo tempo, o desconhecido se concentrou
incansavelmente nesta tarefa. Depois carregou a menina inconsciente de volta á
gruta. Tirou o seu traje, ficando somente com a canga, e a cobriu
carinhosamente com ele.
Olhou para Carol e pediu-lhe que colocasse gelo
freqüentemente sobre o ferimento ainda arroxeado para que não mais sangrasse e
auxiliaria a diminuir também o inchaço.
As crises convulsivas tinham cessado mas a febre
ainda lhe era extremamente alta. Enquanto Carol auxiliava Sara, o desconhecido
e Silvio saíram na neve a procurar mais lenha. Sabiam que não poderiam ficar
novamente no escuro absoluto da gruta; o bicho que ainda lhes era incógnito,
poderia voltar e o fogo o afastaria. Ainda que sentisse imenso frio, somente
revestido da canga, o desconhecido ia e vinha da neve, trazendo inúmeros
gravetos que eram empilhados na gruta por Silvio.
Já o dia findava quando o desconhecido finalmente
conseguiu fazer uma fogueira e ali aqueceu o seu corpo completamente gelado.
Após sentir-se melhor, colocou algumas raízes que colhera sob a neve, para
cozinharem no fogo e ofereceu a Carol e Silvio, para que comessem.
A nobre senhora, olhou o desconhecido que amassava
um pouco da raiz , entre os seus dedos e colocava o alimento delicadamente na
boca de Sara ; ciente de que mesmo que a menina se mantivesse inconsciente, o
engoliria com a salivação. Em sua mente Carol recordava-se dos inúmeros atos
bárbaros e inconseqüentes, que Sara havia narrado da vida daquele homem; se
realmente tivesse feito tanto mal, aquele desconhecido ali mostrava, que em sua essência mais profunda todo o
ser humano possui a verdadeira fraternidade.
Concluída a tarefa de alimentar Sara, somente então
o desconhecido alimentou-se, dizendo para Carol e Silvio que poderiam repousar
tranqüilos, que ele ficaria de vigília para que o fogo não se apagasse; Carol e
Silvio prontamente o fizeram exaustos pela demasiada fraqueza orgânica.
A noite já ia bem alta quando o desconhecido sempre
vigilante, percebeu que a fogueira principiava em querer apagar-se e
levantou-se a pegar alguns gravetos. Perplexo observou na pouca claridade
existente, que uma enorme aranha negra e peluda, se aproximava do rosto de
Carol, que dormia profundamente. Com uma mira impressionante e incrivelmente
certeira, matou-a com uma pedra roliça que agilmente havia pegado no chão.
Carol despertou assustada com a pedra que resvalara
somente um pouco em si, sem no entanto feri-la.
Olharam incrédulos para o grande bicho peçonhento e
concluíram que ele deveria ter mordido Sara. Ela dormia serena.
Numa bela manhã o sol surgiu mostrando sua plena imponência. Após longos seis dias de tempestades
destruidoras, os servos finalmente saiam sorridentes e eufóricos do castelo;
dando graças pela vida que brilhava intensa. Somente um enfermo ainda sofria
com a terrível peste, os demais tinham morrido naqueles intermináveis dias.
Ninguém mais adoecera desde o inicio daquelas contínuas tempestades.
Lorde Arthur saiu também do castelo, respirando
profundamente o ar ainda imensamente frio, mas sentindo-se bem com o frescor
límpido.
Ricardo acompanhava-o sentindo os raios solares como uma enorme
benção que emanava de um sol grandioso.
-
Senhor lorde Arthur, demos graças ao Nosso Pai!
Dizendo isto o medico ajoelhou-se humildemente sobre
a neve, reverenciando o Criador. Inúmeros servos repetiam o mesmo gesto de
agradecimento pela vida e o nobre, vislumbrando aquela impressionante imagem de
fé, extremamente emocionado, deixou-se cair também de joelhos em intima prece.
Passada a emoção, o lorde Arthur e Ricardo,
cavalgaram para ver os estragos na propriedade. A neve ainda se espalhava
grotescamente por todos os cantos; as plantações tinham sido inteiramente
destruídas; as cercas dos pastos arrancadas; a moradia dos servos destelhada;
as arvores frutíferas derrubadas; os imensos celeiros apresentavam a madeira
contorcida violentamente pela fúria dos ventos; tudo teria que ser
reconstruído!
Cavalgaram até o lago que ainda se mantinha uma
enorme tina de gelo e subitamente lembraram-se de Gabriel; ao qual haviam
esquecido naqueles dias.
Ricardo apeou da montaria e caminhou até á gruta
sendo acompanhado pelo nobre. Estava deserta e sem sinais aparentes de que
alguém ali houvesse se escondido nas tempestades. O medico mostrou ao jovem o
nome de sua irmã que fora cravado na pedra; depois mostrou-lhe onde encontraria
os arcos e flechas. Arthur encontrou-os ali ainda guardados. Decidiu leva-los para o castelo e Ricardo auxiliou
Retornando ao castelo Arthur percebeu que os servos
ainda aguardavam suas ordens. Pediu-lhes então que fossem consertar sua enorme
moradia. E quando esta estivesse pronta deveriam consertar os pastos para
nestes libertar os animais ainda presos no castelo. Depois era importante a
construção dos celeiros e a organização dos pomares.
Prontamente os servos foram se dispersando seguindo
as orientações de seu senhor. O lorde Arthur dissera-lhes ainda, que não
designaria nenhum capataz; deixava-os livres a agir!
O jovem olhou Ricardo apreensivo.
-
Vamos imediatamente á casa de Carol!
Ambos novamente montaram e seguiram rumo á moradia
de Carol. O jovem Arthur sentindo-se muito feliz, ia lhe explanando.
-
As trarei conosco para residirem no castelo; serás tu, meu bom Ricardo,
condecorado com um titulo e uma parte de minhas terras; a partir de hoje não
serás mais meu servo...serás o que sempre fostes, o meu nobre amigo e mentor!
Arthur sorridente prosseguiu.
-
Até que construas a tua moradia, residirás no castelo, no aposento que
era de Anderson! Carol se alojará no aposento de minha doce mãe Joane, pois em
verdade esta nobre senhora, sempre me foi uma verdadeira mãe! Sara se alojará
num aposento ao lado do aposento de Linia...seremos todos uma só família!
Ricardo olhou-o humildemente agradecido e ambos
prosseguiram cavalgada veloz e silenciosa. Arthur desejava rever Carol bem e
Sara, a sua sobrinha, sempre esperta e astuta. Silvio as traria com conforto na
carroça até o castelo.
Após três horas
de cavalgada difícil em função da neve, muito densa em determinados trechos,
chegaram próximo ao rio.
Assombrados perceberam que apenas algumas paredes da
casa haviam resistido ao impacto das águas. Num impulso Arthur gritou
desesperado:
-
Sara...Carol...
Mas nenhuma resposta lhes veio. Um arrepio frio lhe
percorreu o corpo juvenil "teriam sido mortas na tempestade"...a
idéia lhe aterrorizava e olhando o semblante do medico percebeu que também isto
tinha os mesmos receios.
Apearam da montaria e vasculharam as ruínas da
residência; mas nada existia por debaixo da neve; tudo fora carregado pela
água. Somente as duas paredes haviam resistido.
O nobre decidiu descer o leito do rio para verificar
se encontrava algum vestígio ou sinal de vida. Enquanto o medico, rouco pela
emoção, acompanhava-o gritando e chamando por seus nomes continuamente.
Nenhuma resposta se fazia ouvir. Perceberam alguns
destroços de moveis da moradia que lhes deixou mais angustiados. Temiam falar
as suas duvidas e incertezas. Caminhando mais um pouco decidiram voltar.
Próximo ao cavalo Arthur abaixou-se exausto por caminhar na neve. Ricardo ainda
repetia os nomes de Sara e Carol chamando-as continuamente.
A menina Sara, auxiliada por seu pai, havia
caminhado em sentido contrario ao rio, mas ambos desconheciam isto persistindo
em fazer as buscas próximo ao leito deste.
Não desistiriam enquanto o sol não se escondesse no
horizonte.
Sara abriu os olhos repentinamente. Silvio e o
desconhecido haviam saído para tentar caçar algum roedor que os alimentasse.
Sentiam-se imensamente fracos e era
difícil caminhar na neve. Carol
ficara com a menina , que agora lhe
olhava suplicante:
-
Sara como te sentes? Estivestes muito doente!
A menina balbuciou com dificuldade:
-
Sai da gruta e grita!
Carol não compreendera, e Sara repetiu-lhe:
-
Precisas gritar, estão nos procurando!
A nobre
senhora não hesitou, rapidamente levantou-se e caminhou até á entrada da gruta;
e gritou:
-
Estamos aqui!
A voz lhe saiu tremula e fraca, mas o vento a
transportou até onde estavam lorde Arthur e Ricardo.
-
Escutastes algo Ricardo?
-
Sim Lorde Arthur, mas não posso dizer-te de que direção foi
proveniente.
Ambos puseram-se a gritar, mas Carol não os
escutava. Carol entrou na gruta e Sara olhou-a angustiada:
-
Grita! Grita sem parar! Eles escutaram!
Novamente Carol saiu da gruta e Silvio e o
desconhecido chegavam apressados:
-
O que foi senhora Carol?
Indagou-lhe
Silvio preocupado. Carol simplesmente disse-lhes :
-
Peço-lhes que gritem o mais alto que possam!
Os três
começaram então a gritar "estamos aqui" repetidamente. E o
Lorde Arthur e Ricardo localizaram de onde vinham os gritos distantes.
Após árdua caminhada de três horas em imensa
dificuldade; transpondo obstáculos derrubados pela tempestade e puxando seus
cavalos; o lorde Arthur finalmente viu a nobre senhora extremamente magra e
abatida por aqueles dias de penúria e sacrifícios. Correu ao seu encontro e
abraçou-a afetuosamente.
-
Tive tanto medo de não mais vê-la Carol!
Carol deixou-se cair em pranto convulsivo , e assim
ficaram alguns instantes.
Logo Ricardo também aproximava-se e percebeu Gabriel
olhando-os incógnito.
-
Perdoai-me senhora, mas o que ele faz aqui?
Também o
Lorde olhou intrigado para Gabriel e extrema fúria lhe veio ao peito:
-
Desgraçado! Disse-lhe pegando a imensa espada que lhe estava na
cintura.
Imediatamente Carol colocou-se na frente do
desconhecido e acalmou os cavalheiros:
-
Salvou-nos a vida! De nada se recorda! Depois conversaremos sobre
isto... a menina Sara ainda esta doente!
Escutando o apelo da senhora que lhes transmitia
serenidade, Ricardo e o Lorde Arthur entraram na gruta e perceberam que a
menina ainda ardia em febre.
-
O que aconteceu?
Indagou Ricardo apreensivo pensando que ela estava
com a peste. Carol tranqüilizou-os:
-
Aquela aranha a mordeu no tornozelo!
Lorde Arthur observou a imensa aranha negra,
extremamente peluda, dizendo:
-
Mas este bicho é mortal, sua peçonha mata um homem adulto em vinte
quatro horas!
Carol contou-lhes como o desconhecido ficara horas
extraindo a peçonha do corpo da menina.
-
Não temos tempo agora para conversas, começa a escurecer e precisamos
retornar ao castelo. Perderam a carroça? Os cavalos?
Gabriel respondeu ao Lorde Arthur humildemente:
-
Caminhamos a procura-los hoje, e não os encontramos senhor; com certeza
fugiram para se esconderem das tempestades.
Lorde Arthur olhou-o, intrigado com sua humildade,
também Ricardo estava temeroso.
Ricardo então recomendou:
-
Poderemos levar a senhora Carol
e a menina Sara em nossos cavalos; amanha mandaremos buscar Silvio e este
cavalheiro.
Lorde Arthur agradeceu o conselho, e colocaram Sara
cuidadosamente na montaria do médico Ricardo;
Carol foi auxiliada também por Lorde Arthur a montar em seu cavalo.
Despediu-se rapidamente de Silvio e do desconhecido e rumaram breves para o
castelo.
No caminho, a nobre senhora contou emocionada ao Lorde,
como o desconhecido surgira e como os
auxiliara naqueles inesquecíveis dias de fome e de frio.
Sara adormecera amparada pelo médico Ricardo que a
tudo também escutava. Carol enchendo-se
de coragem, e controlando a imensa emoção que sentia; contou-lhes pausadamente,
o que Sara lhe narrara a respeito dos bárbaros crimes de Gabriel; também lhe revelara que este era o seu filho!
Arthur parou repentinamente o seu cavalo e observou-a completamente surpreso. Podia
ver que as lagrimas lhe desciam nas faces silenciosas. Indagou-lhe:
-
Como Sara poderia saber de todos os crimes de Gabriel? Também não
compreendo como este pode ser seu filho?
Comovida,
Carol pôs-se a narrar a sua estória;
como o seu pai lorde Orlando havia mandado mata-la e como o velho Manco a havia salvo!
O Lorde Arthur sentindo enorme indignação pelas
frias atitudes de seu falecido pai, também se emocionou. Não conseguindo nada
dizer-lhe; a acariciou tentando conforta-la pelo imenso sofrimento de sua vida.
Pediu-lhe perdão num silencio sincero em nome de sua família; jurando a si
mesmo, conceder-lhe proteção e amor enquanto Carol vivesse! Pensativo na árdua
vida daquela senhora, confuso com os inúmeros mistérios que envolviam Sara, e
triste pelo caráter de seu nobre pai que desconhecia em sua profunda admiração infantil, fazendo-o
sempre herói; prosseguiu rumo ao castelo em trajeto que já estava escuro.
Ricardo a tudo ouvira silencioso e entristecido;
sentia enorme admiração por Carol surgir-lhe intensa em sentimentos fortes.
Admirava-a profundamente, pelo sincero perdão que sentia e que demonstrara ao falar dos que lhe tinham feito tanto mal; pela
humildade que expressava serena e harmônica em cada gesto; pela imensa
benevolência que irradiava em seus olhos; pela resignação á vida que lhe fora
concedida e pela felicidade que sempre emanava num sorriso fraternal que
amparava, consolava e transmitia muita paz a todos.
Tarde da noite
chegaram ao castelo e Carol disse humildemente preocupada, não desejando dar
mais problemas a lorde Arthur.
-
Que falarás ao senhor teu pai?
O Lorde
Arthur disse-lhe sem comoção:
-
O Lorde Orlando faleceu na terrível peste que lhe contamos!
Silenciou amparando a nobre senhora para que apeasse
da montaria. Considerava-a e amava-a como a uma mãe! Refletira no quanto ela
sofrera, isolada durante tantos anos completamente excluída da convivência com
o filho e com o seu povo. Respeitava-a ainda mais! Porem em sua jovialidade,
não compreendia a sua tamanha resignação a tanto sofrimento... fora
drasticamente arrancada de seu seio familiar ainda muito jovem; violentada
física e emocionalmente por seu avô materno; assumira a maternidade nutrindo
afetividade nos muitos meses de gestação; privada do muito amor a dar a seu
filho; jogada num rio á morte como se nada fosse... como poderia ser tão serena
e transmitir tanta paz.
O nobre auxiliou o médico a tirar também a menina
Sara da montaria e este carregou-a carinhosamente no colo até o nobre salão do
castelo. Alguns servos atendiam o pedido de lorde Arthur arrumando os aposentos
designados para cada um enquanto outros se apressavam em concluir forte
alimentação para todos.
Carol e Sara alimentaram-se famintas e depois foram
repousar em seus aposentos.
O Lorde pediu então a Ricardo que ficasse um pouco
mais para conversarem e ambos foram para a biblioteca, onde poderiam ficar mais
á vontade.
-
Preciso de teus conselhos Ricardo!
O médico olhou-o prestativo:
-
O que desejas Lorde Arthur?
Arthur colocou-se a andar meio nervoso e o médico
percebeu-o inseguro.
- Ricardo, crês que Gabriel, realmente perdeu a
memória?
O médico pensou um certo tempo e disse-lhe;
-
Por tudo o que Gabriel fez, as maneiras premeditadas como agiu... o uso
das ervas para se fazer doente... creio que novamente finge para poder se
aproximar do castelo e nos atacar em oportunidade propicia...
Respirou profundamente temeroso e continuou:
-
... No entanto Arthur, julgo-o pelos acontecimentos passados, poderei
estar errado!
O Lorde caminhou pensativo e sentando-se indagou-lhe
hesitante:
-
Tens mais experiência de vida do que eu; o que farias com Gabriel?
Ricardo sem temor disse-lhe firmemente:
-
O prenderia na masmorra lorde Arthur, até estarmos plenamente certos de
que não nos faria mal!
Arthur olhou-o agradecido e ambos foram repousar
daqueles longos dias.
Silvio e Gabriel
observaram felizes que o médico Ricardo e um servo se aproximavam para
busca-los. Novamente o dia amanhecera em sol intenso e o gelo, durante a noite
tinha reduzido enormemente, facilitando-lhes a cavalgada.
Traziam dois cavalos atrelados em suas montarias.
Ricardo apeando disse-lhes;
-
Venham que o Lorde Arthur vos aguarda e não devemos demorar-nos!
Cavalgando num trote apressado e silenciosos,
fizeram o trajeto de retorno ao castelo em brevidade.
O sol ainda não se
erguera plenamente quando chegaram a propriedade. O médico Ricardo disse a
Silvio que fosse rever seus familiares e depois deveria retornar a suas
tarefas. O rapaz prontamente o atendeu, mas antes indagou-lhe como estava a
menina Sara. O médico respondeu-lhe:
-
Amanheceu sem febre, mas permanecera de repouso por alguns dias, ficara
boa Silvio!
O rapaz
então despediu-se e afastou-se
levando os cavalos. O médico então, olhou para
Gabriel e falou-lhe:
-
Venha comigo, o Lorde Arthur deseja falar-lhe!
Gabriel mostrando-se surpreso com tudo o que via,
como se avistasse pela primeira vez, meneou a cabeça humildemente disposto a
acompanha-lo.
Ricardo bateu levemente na porta e o Lorde Arthur autorizou-os
a entrar. Estava sentado por detrás da grande mesa, ainda repleta de livros e
manuscritos. Olhou Gabriel com vivacidade e falou-lhe com seriedade:
-
Senta-te!
O médico Ricardo caminhava para se retirar quando o
Lorde pediu-lhe:
-
Ficai amigo Ricardo!
Pediu-lhe então amigavelmente que também se
sentasse. Gabriel estava defronte a ambos e apresentava imensa serenidade.
Ricardo estava disposto a analisar-lhe todas as reações. O Lorde iniciou
indagando-lhe:
-
Dizes que esquecestes quem és?
-
Sim senhor Lorde; somente me recordo de uma queda!
-
Porque estavas armado de arcos e flechas?
-
Não me recordo não senhor Lorde!
-
Conhecestes alguma coisa em minha propriedade?
-
Não senhor Lorde, creio que nunca estive aqui antes!
-
Com esse traje julga ser um nobre?
-
Não posso afirma-lo senhor!
Gabriel era rápido e breve nas respostas, deixando o
médico intrigado. Arthur falou-lhe:
-
Sei quem és! Te chamas Gabriel!
Gabriel escutou o seu nome com imensa surpresa!
Sentia-se ansioso! Desejava ardentemente saber quem era! Precisava conhecer-se!
O Lorde Arthur então deixando se envolver pela emoção, contou-lhe:
-
Teu sangue é nobre; és filho de meu avô materno; irmão bastardo de
minha mãe Joane e consequentemente és meu tio...
O semblante de Gabriel mostrou-se surpreendido e o
Lorde continuou:
-
... Por opção de meu pai Lorde Orlando, desconhecias o parentesco e
fostes criado como um mero servo; tutelado por um velho chamado Manco, era um
curandeiro, um profundo conhecedor de ervas e com estas medicava e salvava
muitas vidas; trabalhastes no celeiro cuidando dos cavalos até os teus vinte
anos. Eras um excelente aprendiz da arte de curar de teu tutor e um servo
exemplar... tudo te tinhas,
para teres uma vida nobre!
Ricardo observou que Gabriel mostrava-se comovido.
-
... No entanto desconhecendo os laços de sangue, que te uniam a esta
família, apaixonaste-te por minha irmã Brigith e neste sentimento
correspondido, a seduziste. Gerastes um filho que também desconhecia mas que
crescia no ventre de tua sobrinha que tinha apenas quinze anos...
O Lorde Arthur, respirou profundamente, tentando
conter a emoção e manter-se sereno. Gabriel extremamente comovido entregava-se
ao um pranto humilde.
-... Transtornado com o seu noivado, modificaste a
tua conduta e o teu caráter;
mataste-lhe o noivo com duas flechas certeiras no peito e no pescoço,
numa emboscada covarde e sem lhe dares oportunidade de defesa...
O pranto de
Gabriel tornava-se convulsivo com a estória
que lhe era narrada; dificultando ao lorde Arthur a seqüência. O jovem
nobre olhou o médico suplicando-lhe forças e Ricardo lhe fez um sutil meneio de
cabeça, então Arthur continuou:
-
.. Numa paixão doentia e estando ciente de que meu pai a levaria em
viagem, resolvestes ferir meu irmão Anderson. soltando-lhe a sela da montaria,
estavas certo de que isto atrasaria a viagem, mas com isto deixastes o teu
sobrinho que tinha apenas quatorze anos
paralisado. Por um ato inconseqüente, o condenastes á um leito. Somente
movimentava a cabeça, o resto de seu corpo não lhe obedecia.
Arthur levantou-se e caminhou até Gabriel, olhando-o
nos olhos:
-
A minha irmã Brigith transformou os seus dias também em reclusão
fazendo-lhe companhia. Dava-lhe conforto e força á suportar aquela vida em
completa dependência. E tu Gabriel inconformado com sua ausência e não aceitando
que ela dedicasse a vida ao infeliz irmão, premeditaste-lhe a morte
enviando-lhe um chá de ervas venenosas. No entanto enganaste-te e quem tomou o
chá mortal foi a tua sobrinha Brigith, o teu grande amor. Morreu
instantaneamente carregando no ventre o filho que esperava...
Gabriel, soluçou aos prantos:
-
Por piedade senhor Lorde Arthur, nada mais me contes!
Mas o Lorde prosseguiu:
-
Num acesso de ódio e num desejo de vingança injustificável,
covardemente matastes Anderson; completamente vulnerável em seu leito,
asfixiando-o com uma almofada até a morte agonizante!
Lorde Arthur afastou-se dele para disfarçar as
lágrimas que lhe desciam num sentimento profundo de dor. Sentou-se novamente.
-
Minha mãe Joane, a tua irmã, ciente de todos os teus crimes pediu sigilo ao médico Ricardo seu
confidente, mas tão logo faleceu em imenso desgosto; assim como faleceu o teu
tutor, infelizes por teus atos tão vis; Ricardo em sua extrema fidelidade á
nossa família tudo contou ao meu pai Lorde Orlando. Este ciente de que havias
tirado a vida de teus filhos tão covardemente, resolveu não te condenar... deu-te a oportunidade de te regenerares,
transferindo-te para nossa propriedade em Adredanha e oferecendo-te trabalho árduo para reflexão. Ao invés no
entanto, de valorizares a tua atitude e a oportunidade
que havia te concedido de reconstruíres uma nova vida, prosseguistes
alimentando ódios e fugindo, atacaste-nos! Feristes e matastes servos
inocentes... agora, apareces em nossa propriedade dizendo que de nada te
lembras! Sempre foste ardiloso e agiste premeditadamente, como crês que
possamos acreditar nisto?
Gabriel cabisbaixo mantinha-se em pranto emocionado.
-
Responde-me Gabriel, devo ter a mesma clemência de meu pai?
Gabriel controlou-se, balbuciando:
-
Me envergonho de tudo o que dizem eu ter feito; sinto-me criatura
imensamente desprezível; matai-me senhor Lorde, para que não faça mais o mal!
Então ajoelhou-se no chão suplicante e
descontrolado:
-
Por clemência matai-me !
O Lorde Arthur surpreendeu-se com a aparente
humildade e a extrema sensibilidade daquele homem. Olhou incógnito para o
médico, que ainda não se mostrava convencido da sua perda de memória.
Parecia-lhes uma ardilosa encenação . porem não compreendiam o objetivo.
-
Matar-te eu não vou... mas eu te condeno Gabriel a masmorra!
O jovem nobre finalmente silenciou exausto pela
longa narrativa que lhe feria os mais profundos sentimentos. Pediu ao médico
que chamasse os guerreiros para leva-lo a masmorra.
Quando ele foi levado pelos guerreiros o jovem
deixou cair o rosto sobre a mesa, chorando convulsivamente. O médico Ricardo
aproximou-se e silencioso amparou-o compreendendo-lhe na dor que sentia.
Linia observava o homem ser arrastado pelos
guerreiros do castelo, rumo á masmorra, através do pátio central.
Pelo porte elegante e forte, sentiu-se intrigada e
indagou a Lana:
-
conheces aquele homem que esta sendo preso? Nunca o vi antes!
Lana aproximou-se da janela e disse-lhe:
-
É o servo Gabriel; vi quando chegou
de manha com o médico Ricardo!
Linia olhou-a solicitando mais informações e Lana
como não lhe tinha simpatia limitou-se a dizer-lhe:
-
De nada mais sei senhora.
Linia enfurecida, pela atitude da ama, dispensou-a
ficando á sós com os seus pensamentos. Aquele homem, ainda que não tivesse lhe visto o semblante, não saia dos seus
pensamentos. Foi interrompida quando Lana retornou batendo na porta e
dizendo-lhe que o Lorde a chamava na biblioteca.
Aprontou-se demoradamente e desceu para encontra-lo.
A porta estava entreaberta e Linia entrou sem cerimonias. Arthur sem
cumprimenta-la indagou:
-
Pensastes no que te disse?
Linia fingiu ter se esquecido, o que deixou o Lorde
Arthur com o semblante contrariado. Ainda que já houvesse se refeito da enorme
emoção, algumas horas antes, a sensibilidade lhe estava aflorada.
-
Repetirei Linia, o que
decidistes? O prazo que te dei encerrou-se como as tempestades!
Linia olhou-o dizendo-lhe a contra gosto:
-
Aceito as imposições de meu irmão Lorde Arthur!
-
Então acolheras tua filha Sara agora; encontra-se ela no aposento ao
lado do teu. Mandarei imediatamente chama-la para que lhe peças perdão!
Linia estava perplexa, em como a sua filha estava
tão próxima e ninguém havia lhe comunicado; nem mesmo a sua serva Lana. Olhou o
nobre com extrema seriedade mas concordou num gesto afirmativo.
Após algum tempo Sara entrava na biblioteca,
carinhosamente amparada pelo médico, pois ainda não andava com facilidade.
Vendo a mãe, em pé próximo á janela, apertou a mão
do médico violentamente. O Lorde olhou-a ternamente dizendo-lhe:
-
Sara, tua mãe deseja falar-te algo!
A menina continuava apertando a mão do médico e num
impulso correu para abraçar fortemente Arthur. Pediu-lhe:
-
Senhor Arthur, não desejo falar com ela!
O nobre olhou-a confortando-a:
-
Não serás tu a falar querida, ela falará!
Voltou-se para Linia e indagou-lhe:
-
Então Linia, o que querias dizer a Sara?
Linia voltou-se olhando Sara próxima a Arthur e
percebeu imediatamente que entre os dois existia grandiosa afetividade.
Interessadamente pensou em usufruir-se disto. Mudando completamente o
semblante, sorriu ternamente para Sara.
-
Minha filha querida, dê um abraço em sua mãe que sente imensa saudade!
A menina olhou-a indiferente, mantendo-se abraçada
ainda ao jovem Lorde e disse-lhe friamente:
-
Não Linia, não sentistes minha falta! És mentirosa e falsa, e somente
ages assim porque com certeza o nobre Arthur o impôs!
Linia corou com a atitude da filha e tentou atri-la:
-
Querida Sara, perdoai-me ter te deixado sozinha, porém o Lorde Orlando tomava decisões tão apressadas... eu
não tinha escolha!
O médico Ricardo olhou para o Lorde Arthur
indignado, suplicando-lhe com os olhos que ele ordenasse que ela imediatamente,
parasse com aquela encenação; porém a esperta menina tomou a iniciativa.
-
Parai já com isto Linia! Não sejas mesquinha!
O nobre e o médico novamente olharam-se e Sara puxou
a mão de Arthur dizendo-lhe:
-
Meu tio, ficarei nesta casa com o senhor, mas nunca me obrigue a falar
ou gostar dessa mulher!
O Lorde estava completamente surpreso e
impressionado com a personalidade de Sara. Atendendo ao seu pedido falou:
-
Pode sair Linia voltai ao seu aposento!
Linia enfurecida e sentindo-se profundamente
humilhada, saiu da biblioteca amaldiçoando-os.
Sara olhou Arthur e lhe disse carinhosamente;
-
Posso lhe dar outro abraço?
O jovem abraçou-a e Sara falou-lhe:
-
Ricardo contou-me que lhe darás umas terras, é verdade?
Arthur meneou afirmativamente e Sara prosseguiu:
-
Daí as terras para Linia, isto á fará feliz longe de nos! Deixai
Ricardo aqui conosco!
-
Porque falas isto Sara?
-
Porque só assim Arthur, poderemos ser felizes!
O Lorde surpreendido falou-lhe:
-
Prometo-te que pensarei no que me pedes Sara.
-
Posso lhe falar mais uma coisa?
-
Claro querida Sara!
-
Gabriel falou a verdade, de nada se lembra!
O Lorde sentou-se
rapidamente, sentindo-se confuso. O médico percebendo-lhe a expressão de imensa
surpresa, pediu a menina que se despedisse, precisava repousar. Sara
prontamente o fez e o médico após acompanha-la ao aposento, retornou para falar
com Arthur. O jovem vendo-o entrar indagou-lhe com certa indignação.
-
Ricardo, é apenas uma menina, porque sempre lhe contas tudo a respeito
de Gabriel, ou de nossos problemas?
O medico compreensivo compreendeu-lhe a confusão,
falando-lhe sereno.
-
Nunca nada lhe contei, senhor Arthur!
O lorde Arthur surpreso argumentou prontamente.
-
Como sabe de tudo então? Como contou a Carol a estória de Gabriel com
tantos detalhes? Como sabia que lhe era o filho?
Ricardo olhou-o com seriedade dizendo-lhe:
-
Senhor Lorde Arthur, ainda tenho muitas coisas a contar-lhe sobre Sara,
porém o sol já alto vai e necessário se faz a sua presença nos campos!
-
Estas certo Ricardo, porém cavalgarás comigo e tudo poderás contar-me
no caminho!
O médico concordou e ambos saíram do castelo e
montados em seus cavalos saíram a supervisionar
as tarefas dos servos.
Gabriel na
masmorra, olhou os pastos ainda cobertos
pela neve, as colinas, o rio; as lagrimas ainda lhe desciam vorazes pela face
sentindo-se entristecido pela vida vergonhosa que tivera mas da qual não
conseguia recordar-se.
Viu quando o medico Ricardo e o Lorde Arthur subiam
as colinas, cavalgando em imponentes cavalos e gritara-lhes angustiado:
- Matai-me por clemência...matai-me!
Mas a voz simplesmente ecoou mórbida na pequena cela.
Surpreendentemente lembrava-se da doutrina que aprendera e estava ciente do que
era uma moral boa e uma moral má... violara todos os princípios bons!
Ajoelhou-se desesperado no chão frio e pediu
clemência para a dor insuportável que lhe corroía a mente entorpecendo-lhe os
sentidos. Deixou-se deitar no chão de pedra; as palavras de lorde Arthur
ecoavam-lhe na mente assustadoramente "matastes covardemente..." não
compreendia porque nada conseguia recordar de seu passado. Sentia-se julgado e
condenado por matar pessoas que não conhecia em suas lembranças; sentia-se bom
e justo incapaz de cometer tantos atos bárbaros que haviam sido lhe narrados.
Auxiliara prontamente aquela nobre senhora Carol, e aquela meiga menina Sara na
gruta...como poderia ser capaz de cometer tantos atos infames...precisaria ser
um monstro sem sentimentos e não conseguia se ver assim!
Sentia enorme compaixão de si mesmo por nada
conseguir se recordar! Porem sentia também a enorme dor daquele jovem lorde,
que ainda tão menino perdera os irmãos por sua culpa! Como se sentir culpado
por algo que não se recorda; eles nunca acreditariam no que dizia! Como
poderiam acreditar depois de tudo o que disseram ter feito! Não lhes criticava
a condenação, compreendia-lhes; desejava se desculpar! Corrigir seus erros se
possível fosse! Fazer alguma coisa que pudesse mostrar que era uma pessoa boa e
que estava sentindo imensamente tudo o que lhe fora contado. Como provar-lhes
que o sentimento era imensamente sincero e sofrido!
Gabriel extremamente abatido encolhera-se num canto
da cela e ali ficara, imóvel, desejando ardentemente dormir para não mais
despertar.
Um longo período se
passou, em dias abençoados de imensa claridade e calor.
Os campos haviam se revestido do verde da vida e
inúmeras flores coloridas embelezavam-nos.
O lorde Arthur com auxilio de seu amigo Ricardo e
dos seus servos haviam reconstruído a propriedade. Arvores frutíferas
replantadas no imenso pomar mostravam enorme vitalidade, as plantações
novamente semeadas, tinham germinado com força e total vigor, o rio corria
veloz novamente.
O jovem lorde ensinara Sara a cavalgar elegantemente
e com arte. Freqüentemente os acompanhava nas cavalgadas.
O medico Ricardo incumbira-se de continuar a
doutrina-la e Sara já conseguia ler e escrever com desenvoltura.
Carol auxiliava a administrar a moradia deixando-a
aconchegante e acolhedora. Era uma verdadeira mãe para todos, menos para os
olhos do medico que a viam cada dia com maior afeição.
Linia mantinha-se isolada naquela família feliz.
Participava das refeições e das horas comuns de lazer e repouso, mas nenhum
deles se aproximava para dialogar ou pedir opiniões, numa distancia imposta por
si mesma em sua frieza, superioridade e diário mau humor .Naquele lar
harmônico, Linia se tornara o canto frio e feio, do qual ninguém desejava se
aproximar, nem mesmo os servos. Soubera que o seu irmão Arthur, enviara um
mensageiro com um manuscrito desfazendo o seu noivado. Sentia-se enfurecida pela
viuva que era, pela filha que a ignorava e pela felicidade que todos sentiam e
que não advinha ao seu coração petrificado. Sentia-se infeliz!
Naquela manhã Carol aproximou-se do lorde Arthur
sorrindo-lhe candidamente.
-
Posso falar-lhe Arthur?
O lorde carinhosamente acolheu-a também com um
sorriso, pedindo-lhe que se sentasse, o que também fez.
-
Que desejas amiga Carol?
A nobre senhora falou-lhe humildemente.
-
Faz um ano que me acolhestes em teu lar; me sinto extremamente feliz e
reconfortada com esta nova vida; nada deixastes que me faltasse!
O nobre disse-lhe com extrema ternura.
-
Fiz tão pouco ainda Carol. Se me pedires o impossível farei de tudo
para realiza-lo para ti, estejas certa disto; não como recompensa ou pagamento
ao que muito sofrestes, mas com profunda admiração e amor pela pessoa que és!
Mostrando-se sensibilizada e agradecida por suas
doces palavras, Carol temerosa encorajou-se a dizer-lhe.
-
Vou pedir-lhe o impossível lorde Arthur!
O jovem olhou-a intrigado e em sua candura e
serenidade pela primeira vez podia perceber-lhe o peito ofegante e o olhar
ardente em suplica.
-
Perdoai-me senhor, mas é o coração de uma mãe muito aflita que lhe
pede; deixai-me visitar na masmorra o meu filho Gabriel!
O nobre mostrou-se surpreso e Carol continuou em
suplica.
-
Sei dos seus atos bárbaros; sei do imenso mal que lhe fez; mas
compreenda o sentimento desta pobre mãe que anseia em vê-lo e lhe dar o amparo
que nunca pôde dar. O coração materno, ama acima de todos os erros ou imperfeições de seus filhos...os
alenta e os orienta ainda que estes se encontrem confusos, perdidos ou em vida
errônea . Desejo ardentemente visitá-lo, ampara-lo, reconforta-lo e
orienta-lo!
Arthur refletiu silenciosamente em suas palavras
tristes observando-lhe os olhos ansiosos. Sorriu-lhe dizendo.
-
Amiga Carol, como poderia eu negar a aproximação de uma mãe com seu
filho, ainda mais , com o sincero desejo de auxilia-lo; poderás ir visita-lo e
orientai-o para que compreenda os inúmeros males que fez!
Carol, extremamente agradecida, num impulso
abraçou-o . Mas o jovem fechando o semblante em seriedade, olhou-a advertindo.
-
No entanto amiga Carol, és também uma grande mãe neste coração e se
Gabriel ousar te ferir ou te agredir mandarei puni-lo compreendes?
A nobre senhora sentindo-se profundamente feliz por
seu afeto e consentimento na visita ao filho, beijou-lhe as mãos. O jovem
abraçou-a em repleta emoção.
-
Vai querida Carol, pedirei a Ricardo que te acompanhe á masmorra; não
desejo que lá vás só!
Carol novamente agradeceu-lhe saindo radiante e muito feliz.
O sol já alto ia, quando Arthur afastou-se de
Ricardo para que este acompanhasse Carol em visita a Gabriel.
A pequeno recinto estava claro, mas Gabriel
mantinha-se deitado no chão frio; parecia estar dormindo. Ricardo manteve-se
próximo á porta, que fora aberta pelo guerreiro, enquanto Carol se aproximou
serenamente.
A cela estava
úmida e fétida ; mas a nobre senhora parecia não se incomodar com o ambiente.
Carol acariciou-lhe o rosto delicadamente e Gabriel
abrindo os olhos muito sonolento e aparentemente abatido, balbuciou:
-
Um anjo!
Esfregando os olhos, levantou-se envergonhado,
reconhecendo-a.
-
Perdoai-me senhora Carol!
Gabriel olhou para o medico, que tão pouco conhecia,
também dizendo-lhe.
-
Perdoai-me senhor !
Ricardo podia observar que Gabriel apesar das
acomodações rudes, estava sendo bem cuidado. O corpo mantinha-se forte e
robusto e a fisionomia ainda que abatida, mostrava um brilho saudável. Estava
limpo e barbeado. O nobre Arthur fora extremamente generoso dando ordens aos
guerreiros para que nada lhe faltasse; tinha água em abundância, alimento farto nas três refeições diárias, e
possibilidade de higiene constante em si e na sua cela!
Carol olhou para Ricardo suplicando-lhe.
-
Amigo Ricardo, deixai-nos um pouco sozinhos!
O medico um pouco hesitante, afastou-se da porta da
cela e aguardou-a a certa distancia junto com o guerreiro que o vigiava. Carol
olhou o filho enternecida e Gabriel sentiu-se constrangido.
-
Senhora Carol, não me recordei de nada; nada me lembrei dos muitos
males que fiz; sinto-me imensamente mal com isto! Juro-lhe por minha vida;
estou sendo sincero!
Carol pegou-lhe a mão dizendo-lhe serenamente.
-
Confio no que me dizes Gabriel; não terias mais motivos para
enganar-nos!
Indagou-lhe então desconfiado.
-
Porque a senhora veio até aqui?
-
Precisava ver-te Gabriel!
-
Porque a senhora sente piedade de um criminoso como eu?
Carol não conseguia mais conter o pranto emocionado,
revelando-lhe tremula:
-
Não és um bárbaro criminoso para mim... és o meu filho cheio de erros e de imperfeições, estou
ciente disto; mas ao qual Nosso Pai
ainda concede contínuos amanheceres, doando-te a incessante oportunidade de
te regenerares; e se Nosso Pai ainda
ainda zela por ti com infinita bondade,
porque esta humilde mãe, não te ampararia?
Gabriel imensamente surpreso indagou:
-
Seu filho?
Carol olhou-o afetivamente, e contou-lhe a sua longa
estória. Extremamente emocionados ambos se abraçaram fortemente e Gabriel
sentiu uma enorme sensação de paz que há muito não sentia.
Dialogaram longamente. Carol contou-lhe pausadamente, os inúmeros
erros que ele cometera. Tentava faze-lo compreender, que precisava reconhecer, arrepender-se e reparar de alguma forma todo o
mal feito. Aconselhou-o a pedir
contínuo perdão a Deus por suas imperfeições e a dar-lhe graças por cada dia em
que lhe concedia nova oportunidade á continuidade da vida;
Gabriel dizendo-lhe que refletiria em tudo o que
dissera e prometendo-lhe que faria orações freqüentes, despediu-se agradecido
de Carol. A nobre senhora ainda emocionada, porem sentindo-se imensamente
feliz, afastou-se afirmando que o visitaria todos os dias.
Ricardo que presenciara tudo, ainda que não
escutasse o que diziam, percebeu que Gabriel parecia ter sofrido grande
transformação realmente. Se mostrava sensível, afetuoso e humilde.
Ambos saíram da masmorra e Gabriel caminhou até a
pequena janelinha, olhou o céu azul, e agradeceu fervorosamente a Deus, o
amparo tão sereno e meigo que trouxera para si, abençoando-o com uma mãe.
O nobre
Arthur aproximou-se de Linia, que se
encontrava no salão, tocando na harpa uma triste melodia. Vendo-o aproximar-se
Linia parou instantaneamente. Estava ciente que o irmão só se aproximava dela
para lhe instruir como se comportar em determinadas reuniões daquela "família" feliz.
Olhou-o indiferente e o Lorde sentou-se para
falar-lhe:
-
Linia, sinto que não és feliz neste grupo familiar; nada fizestes
também, para cativar Sara ou aproximar-se de Carol... manténs-te reclusa em teu
aposento ou te fechas em semblante sério e rude em nossas reuniões! Passou-se
um ano em deste convívio comum; Poderias
ter reconstruído uma vida alegre; mas não o fizestes...
Arthur caminhou até a lareira e voltou-se novamente
para olha-la. Linia se mantinha altiva e fixando-o os olhos , mas permanecia
indiferente. O nobre continuou:
-
Percebendo isto, resolvi atender um pedido de tua filha Sara; junto com
meu amigo Ricardo delineei parte desta propriedade, e essas terras serão tuas!
Deverás administra-las e planta-las. Em cinco dias grande moradia estará
concluída; e será digna de vossa nobreza. Colocarei a teu serviço cinqüenta
servos que te ajudarão no plantio e na organização de tua moradia. Poderás
ainda levar a serva Lana que já se acostumou com as tuas amarguras e rispidez!
Arthur voltou
a sentar-se sempre olhando-a com seriedade:
-
Em cinco dias, serão transferidos para as tuas terras, as tuas vestes e
os teus pertences; os servos, suprimentos básicos para a alimentação de todos
por longo período e alguns animais... daqui a cinco dias não farás mais parte
dessa família feliz, que sei, te contraria em demasia!
O Lorde respirou profundamente e complementou:
-
Estou sendo imensamente justo e para provar-te isto, mandei lavrar um
título para ti; á partir dessa data serás a Duquesa Linia de Corleanos; única
irmã de Lorde Arthur de Corleanos e filha do falecido Lorde Orlando de
Corleanos.
Linia olhou-o arrogante e disse-lhe:
-
Nada me caberá da grandiosa fortuna de meu pai?
Lorde Arthur estava perplexo com sua extrema
ambição. Falou-lhe indignado:
-
Linia, como és avarenta... filha bastarda de meu pai, não crês que
muito reclamas? Dou-te grande propriedade, servos, suprimentos e animais;
deu-te inúmeras jóias o nosso pai... desejas mais riquezas?
Deu uma pausa para se recompor e depois disse
irônico:
-
Plantarás tua propriedade se desejares comer, pois os suprimentos que
te concedo, um dia findarão e nada mais terás de mim! Deixo em testamento também
devidamente lavrado, que toda a herdade dos Corleanos irá para a Duquesa Sara
de Corleanos, minha sobrinha, se algo me acontecer. Será o Lorde Ricardo
Lamartine o seu tutor, até esta ter idade de administrar todas as suas
propriedades, inclusive a tua irmazinha...
Arthur caminhou até ela e colocando a mão em seu
ombro advertiu-lhe:
-
Por isto minha querida, em sua enorme ambição, não almejes minha morte,
pois perderás tudo o que te dou agora!
Pisando forte o nobre jovem se afastou, deixando
Linia a sós com seus pensamentos.
Irritada agrediu as cordas da harpa que bravejaram forte som estridente.
Durante aqueles
cinco dias, não houve um só dia em
que Carol , não visitasse Gabriel na masmorra. Lorde Ricardo,
sempre em sua companhia, se surpreendia com sua candura.
Naquela tarde, o Lorde Ricardo procurou o Lorde
Arthur para conversar; o nobre recebeu-o amigavelmente com um sorriso como
sempre o fazia:
-
Querido Ricardo , a que vens?
Ricardo com o semblante constrangido, meio envergonhado,
balbuciou:
-
Desejo lhe fazer um pedido senhor Arthur!
Arthur deu uma risada infantil.
-
Precisas corar para pedir-me algo? Vejo que o pedido é sério. Falai!
Ricardo trêmulamente falou:
-
A senhora Carol pelo que estou ciente, não possui outra família; nós
somos-lhe a família!
-
Sim Ricardo, considero-a como minha mãe!
Ricardo caminhou intranqüilo de um lado para o outro
e Arthur aflito indagou-lhe:
-
Ricardo, vieram da masmorra á algumas horas, aconteceu algo com a
senhora Carol? Gabriel a ofendeu? A
maltratou? Dizei-me agora, não te retardes mais!
O médico parou de caminhar, percebendo a preocupação
do jovem e disse-lhe prontamente:
- Nada aconteceu com a senhora Carol, mas é que ...
-
Sempre fostes direto e objetivo, porque temes tanto em dizer-me algo?
Ricardo então encorajando-se pediu-lhe humildemente:
-
Desejo , senhor Lorde Arthur, pedir
a senhora Carol em casamento!
Arthur vendo-o baixar a cabeça constrangido,
controlou-se para não gargalhar eufórico, mas sorriu-lhe radiante.
-
Que enorme felicidade amigo Ricardo; já falastes com ela de tuas
intenções!
-
Não senhor Arthur, vim aqui humildemente lhe pedir, que diga-lhe, que á
pedi em casamento.
Desejo ardentemente desposa-la, porque enorme sentimento lhe
tenho! Receios tenho no entanto, que não me deseje como esposo!
-
Não te angusties assim amigo, conversarei com Carol ainda hoje e lhe
falarei de seu pedido e de seu enorme sentimento...
Arthur não mais conseguindo conter-se em seriedade;
deu a costumeira risada espontânea e ainda infantil. E rindo falou-lhe:
-
Tens idade para ser meu pai... nunca pensei que me pedirias a mão de
alguém em casamento!
Ricardo meio contrariado com a brincadeira de Lorde
Arthur, sorriu-lhe envergonhado e agradecendo afastou-se; deveria verificar
como estava a mudança de Linia para a sua propriedade.
Indagando alguns servos, soube que a maioria das
coisas já havia sido transferido; somente a Duquesa e os seus pertences ainda
estavam no castelo.
A Duquesa Linia despediu-se de seu irmão friamente,
fazendo-lhe mera reverencia sutil. Lorde Arthur, possuidor de bons sentimentos,
olhou-a afetuosamente.
-
Desejo-te toda a felicidade deste mundo Linia!
A jovem sem mostrar qualquer gesto de simpatia
afastou-se entrando na carruagem que já a aguardava. Lorde Arthur percebendo
que a carruagem se distanciava disse a Ricardo que estava próximo a si:
- Sinto imensa dó de minha irmã; terá tanto a
aprender! Que o bondoso Deus á acompanhe!
Anoitecia quando todos se reuniam no salão de
refeições. Sara radiante por não termais a presença de Linia, tagarelava feliz
as novidades de seu dia.
A senhora Carol dando-lhe toda a atenção e carinho,
parecia também se sentir feliz com o ambiente mais sereno.
Lorde Arthur, com jeito por vezes ainda tão menino
olhava o medico Ricardo, em cumplicidade, ameaçando-o de falar ali sobre o seu
pedido; Ricardo nervoso com as brincadeiras do lorde mal conseguiu
alimentar-se.
Após a farta refeição, foram para o amplo salão e
Sara colocou-se a tocar alegre melodia que aprendera no órgão.
Lorde Ricardo, pediu-lhes licença e afastou-se
inibido, ciente de que Arthur aguardava oportunidade a falar com a senhora
Carol a sós.
Lorde Arthur aproveitando-se da ausência proposital
de Ricardo, sentou-se defronte a Carol e disse-lhe:
-
Querida Carol, fizeram-me hoje um incrível pedido!
A nobre senhora olhou-o intrigada:
-
Contai-me Arthur!
Arthur sorriu feliz e falou:
-
Fostes pedida em casamento!
Carol olhou-o contrariada mas sorridente.
-
Deixai de peripécias Arthur...não és mais um menino para viveres sempre
a brincar!
O lorde Arthur olhou-a então em seriedade e lhe
disse:
-
Perdoai-me a brincadeira Carol! No entanto é serio o que lhe digo,
pediram-me a sua mão em casamento!
Carol observando a seriedade de Arthur ficou tremula
e corou em constrangimento.
-
O lorde Ricardo Lamartine deseja desposa-la pelo enorme sentimento que
lhe tem...
Arthur observando-lhe a seriedade novamente sorriu e
brincou:
-
A senhora entendeu, não? Ele está apaixonado!
Carol mantinha-se silenciosa e a emoção foi
aparecendo pouco a pouco em lagrimas sutis que lhe desciam as faces.
-
Porque choras Carol? Te ofendi com minhas brincadeiras?
A nobre senhora meneou a cabeça em negativa e então
pegando a mão de lorde Arthur falou tremula:
-
Passei a minha vida tão só...os sonhos e as fantasias da menina que eu
era, morreram naquele rio...
O nobre jovem apertou-lhe a mão tentando
reconforta-la.
-
Ficai feliz Carol, alguém deseja nunca mais te deixar só!
A senhora olhou-o secando as lagrimas.
-
Nobre Arthur, não compreendestes, o meu pranto é de felicidade!
-
Irás aceitar?
-
Irei agora falar-lhe, porque não sou mais uma menina...sabes onde foi?
Arthur olhou-a feliz dizendo-lhe:
-
Me espera no pátio; fiquei de lhe dar a sua resposta!
Carol beijou-lhe as mãos agradecendo e caminhou
decidida a encontrar Ricardo no pátio.
Avistou-o caminhando nervoso e de cabeça baixa.
-
Senhor Lorde Ricardo...
Ricardo virou-se surpreso com sua presença.
-
... Desejo imensamente falar-lhe!
Carol caminhou até aproximar-se de Ricardo e
pegando-lhe a mão carinhosamente disse-lhe:
-
Imensa alegria trouxe ao meu coração o seu pedido, e aqui vim para
falar-lhe que desejo imensamente ser a sua companheira. O admiro e o respeito
com toda a força deste humilde coração! Sempre fostes, desde que nos conhecemos
o amigo presente e fiel, o confidente de integra confiança, o protetor
incansável...Tenho-lhe enorme sentimento de afeto e aceito acompanhar-te
enquanto aqui viva!
Sem se dizerem mais palavras, abraçaram-se
fortemente e longo tempo assim permaneceram em silencio e no autentico amor que
pulsava intenso sob a noite que os abençoava.
Ricardo e Carol entraram no salão nobre dando-se as
mãos.
Lorde Arthur que estava próximo a Sara, auxiliando-a no órgão; vendo-os juntos e de
mãos dadas sorriu feliz falando eufórico.
-
Marcaremos a data de vossa matrimonio para breve! Faremos uma grandiosa
festa, para oficializarmos a união!
Levantando-se Arthur caminhou até eles também de
mãos dadas com Sara e continuou:
- ...farei questão de ser o padrinho de vosso
casamento, e Sara ainda que seja tão menina será a vossa madrinha!
Sara exultou em felicidade com a novidade e
abraçou-os fortemente.
Ricardo olhou Carol sorrindo-lhe e disse sentindo
indescritível felicidade:
-
Serão os nossos padrinhos, querida Carol!
A data do casamento foi prontamente marcada para
seis meses depois. No dia seguinte lorde Arthur escreveu vários manuscritos; um
chamava o frei para celebrar a cerimonia; os outros convidavam alguns amigos da
corte e das propriedades vizinhas para a grande comemoração. A pedido de Ricardo, o lorde Arthur também enviou um
convite para a Duquesa Linia.
Com os enormes
preparativos para o grande acontecimento os
dias passaram breves. O castelo era enfeitado e adornado, tornando-se
demasiadamente alegre e bonito.
Carol e Ricardo não conseguiam esconder o enorme
contentamento na breve união, sempre sorridentes e em extrema felicidade. No
entanto por vezes a nobre senhora ficava silenciosa e entristecida. O lorde
Arthur percebendo-lhe a estranha melancolia, resolveu falar-lhe.
-
Amiga Carol, observo-te já algum tempo e percebo que a felicidade não
te é completa; o que te falta?
Carol
surpresa com sua observação , falou candidamente:
-
Como poderia estar completamente feliz, se sei que meu filho Gabriel, á
dezessete meses, encontra-se enclausurado num recinto minúsculo...não creia no
entanto que o culpo meu querido Arthur! Sei que a condenação foi correta e
justa! Porem o coração desta mãe que também te ama, sente-lhe a solidão e se aflige...Conforto-me
em meu leito macio mas vejo-o freqüentemente, dormindo no chão duro e frio;
Trajo-me em vestes limpas e perfumadas, mas quando o visito ainda que tenhas
dado ordens para que se banhe todos os dias, as vestes estão sempre sujas e
fétidas; Passeio freqüentemente pelos jardins e colinas desta propriedade com
Ricardo, mas quando vou á masmorra me dói o coração de vê-lo com tanta saúde,
restrito a quatro paredes...
As lagrimas desciam sofridas mas tênues, nas faces
de Carol, e pela segunda vez Arthur a via intranqüila e angustiada.
-
Sei que matou inocentes, ferindo-os sempre covardemente; Porem isto não
o faz menor em meu imenso amor; como exclui-lo de um sentimento intenso que
deseja amparar e proteger...
Carol secou as lagrimas com as mãos, desculpando-se
constrangida.
-
Perdoai-me meu querido! É apenas um desabafo da dor que por vezes corrói o meu ser!
Arthur compreensivo apiedou-se de sua amiga, mas
permaneceu silencioso e Carol explicou-se, tentando não culpa-lo.
-
Estou imensamente dividida nos valores que sinto...sei que fostes bom e
justo impondo-lhe a branda pena da reclusão; Tens lhe ofertado generoso
alimento e farta bebida; Semanalmente mandas os servos limparem o recinto e sua
veste é trocada diariamente quando se banha; Permitiste-me as visitas diárias e
nestas, lhe tenho levado livros para que leia...Dei-lhe até um antigo Evangelho
para que refletisse no quanto infringiu a lei divina; Mas o lado de mãe piedosa
deseja ardentemente vê-lo livre e feliz...Compreendes meu filho, a tristeza que
por vezes aflora em meu semblante?
O lorde meneou a cabeça afirmativamente, passando os
seus dedos levemente nas faces de Carol para secar-lhe as lagrimas que ainda
corriam; sentindo-se profundamente emocionado com tudo o que lhe contara de
seus sentimentos abraçou-a tentando conforta-la em sua dor.
Pedindo-lhe desculpas, Lorde Arthur viu-se obrigado
a se afastar porque precisava receber o frei que acabara de chegar ao castelo.
Após o frei ser alojado adequadamente, lorde Arthur
mandou chamar Ricardo que se encontrava nos campos supervisionando o trabalho
dos servos.
Recebendo o recado, Lorde Ricardo apressou-se a retornar ao castelo.
Encontrou Arthur aflito na biblioteca.
-
Mandaste-me chamar, lorde Arthur?
-
Sim Ricardo, entra e senta-te; muito tenho a falar contigo!
Ricardo sentou-se comodamente e Arthur indagou-lhe:
-
Como vês a educação de Sara?
-
É uma menina muito inteligente senhor Arthur, e tenho a doutrinado
continuamente; sabe ler e escrever corretamente; gosta de aqui ficar e
empenha-se em ler, por vezes, tardes inteiras; gosta de musica e como sabes já
toca perfeitamente bem na harpa e no órgão; Carol a tem ensinado também a
bordar e a cozinhar...é destemida e gosta de cavalgar conosco...
-
Sei de tudo isto, meu amigo , o que te indago é se isto lhe é
suficiente!
-
Não entendo tua preocupação senhor, tem uma educação mais rigorosa que
tua irmã Brigith!
O lorde Arthur olhou-o fixamente:
-
Mas está ficando uma linda moça e não lhe desejo o mesmo destino que
minha doce irmã; preciso protege-la... não seria melhor, manda-la para um
educandário na corte? Estaria em segurança!
Ricardo olhou-o com seriedade.
-
Seria ela feliz, num educandario, senhor?
O jovem vagou silenciosamente e depois disse-lhe:
-
Sara está com dez anos, e eu gostaria que ela viajasse com o frei após
a cerimonia . Este a deixaria num educandário na corte. Após cinco anos, quando
estivesse pronta a casar-se um de nós iria busca-la!
O medico caminhou na direção do nobre, sentia-se
surpreso com a sua repentina vontade de afastar Sara do convívio familiar.
Estava ciente de que ambos eram imensamente felizes juntos, no convívio diário
divertiam-se continuamente em longos cavalgadas, em passeios nos jardins do
castelo em longos diálogos, nas opiniões que lhe pedia a respeito de alguns
problemas na propriedade e ainda que Sara fosse muito jovem, inúmeras vezes o vira aceitando seus
conselhos. Indagou-lhe perplexo.
-
O que temes de verdade, senhor lorde Arthur?
Lorde Arthur baixou a cabeça, evitando-lhe o olhar e
falou comovido.
-
Sinto-me envergonhado Ricardo mas sei que nada posso esconder de ti.
Sempre fostes um pai carinhoso para mim!
Confiastes plenamente no menino que eu ainda era, quando te procurei em
Adredanha; e em generoso e continuo amparo vens me acompanhando; instruindo-me
e orientando-me. Em todos os momentos, ali estavas auxiliando-me a vencer
dolorosos sentimentos e inúmeros problemas. Tudo aconteceu tão rápido! Foram
apenas poucos anos, mas tanto aprendi contigo! Sinto como se fosse uma vida!
Estou agora com dezessete anos e ainda tenho tanto a aprender e a viver!
Preciso ainda tanto de teus conselhos e de tua experiência!
O jovem deu uma pausa, sentindo-se fragilizado pela
emoção, e respirando profundamente confidenciou-lhe.
-
Em minha jovialidade, eu nunca encontrei nenhuma jovem, que me
encantasse o coração como Sara. Sinto-me deslumbrado; o sorriso de Sara me
seduz, me fascina, me atrai; não consigo mais vê-la distante; passo os meus
dias ansiando te-la em minha companhia! Estou ficando louco Ricardo; sinto-me
culpado; ela é apenas a minha sobrinha e é ainda uma menina de dez anos!
Ricardo apiedou-se do lorde e carinhosamente
pediu-lhe que se sentasse. Colocando-lhe a mão no ombro falou-lhe:
-
Escuta o que te digo, lorde Arthur, não é errado enamorastes de tua
sobrinha; Inúmeros matrimônios ocorrem nos mesmos laços consangüíneos; para que
assim as famílias se mantenham em sangue nobre; Ocasionalmente ocorrem
problemas com os seus filhos mas isto não é a rigor...Errado no entanto, é a
faixa etária em que Sara
se encontra; Pelo que me contastes
concordarei contigo, em que afastes a menina Sara do castelo, até que atinja
idade mais apropriada a enamorar-se de alguém.
O medico percebendo que Arthur tranqüilizava-se com
suas palavras, prosseguiu:
-
Comprometo-me a busca-la na corte quando completar os quinze anos...se
o sentimento que lhe tens sobreviver ao tempo, e ás inúmeras experiências que
terás em convívio com outras mulheres, serei o primeiro a te apoiar para que
cases com ela; estarás então com vinte e dois anos e haverás amadurecido.
Arthur mais tranqüilo por ter repartido com seu
amigo, os seus sentimentos e sentindo-se
mais uma vez agradecido por suas sensatas orientações. Falou-lhe:
-
Ricardo, temos outro problema serio a resolver!
O medico escutou-o atencioso.
-
Carol se angustia e sofre com a reclusão do filho na masmorra, nunca
conseguirás faze-la completamente feliz e sei também que sofrerás com isto; que
faço?
Ricardo pensou demoradamente e depois falou-lhe:
-
Nestes cinco meses tenho a acompanhado freqüentemente á masmorra; não
houve um só dia que não fosse acompanha-la. Tenho observado imensamente Gabriel
e conclui que realmente que a perda de memória foi real. Sempre se mostrou
educado, humilde e amável com Carol e profundamente arrependido de incidentes
dos quais não se recorda...
O medico deu uma pausa ofegante para respirar:
-
...ouvi-o certa vez, dizer a sua mãe, que desejaria ter uma oportunidade
para reparar o imenso mal que te fez, ainda que fosse uma pequena parte deste!
O jovem nobre suplicou-lhe.
-
Que farias com Gabriel, amigo Ricardo?
Ricardo falando determinado mas temeroso;
aconselhou-o .
-
Libertaria-o, sob vigilância rígida diária! Colocaria um guerreiro de
inteira confiança sempre ao seu lado; fosse no aposento onde dormisse ou no
local onde se banhasse; fosse na companhia de Carol ou em passeios; Também lhe
daria um trabalho e neste também estaria acompanhado... Libertaria-o mas lhe
daria uma sombra!
Arthur gostava das conclusões de Ricardo, sempre
ponderadas e sensatas, e por isto lhe era o pai, o confidente, o administrador
e o amigo. O medico percebendo a ansiedade daquele jovem nobre argumentou.
-
Lorde Arthur, creio que Gabriel, recluso
em um pequeno recinto, completamente isolado e privado do convívio, poderá somente reconhecer e arrepender-se do
imenso mal que fez, no entanto estará impossibilitado de tentar repará-lo,
reconstruindo uma vida nova!
O jovem indagou-o curioso.
-
Ricardo e onde o hospedarias?
O medico olhou-o hesitante porem disse-lhe:
-
Concedeste a nobreza a tua irmã bastarda, reconhecendo-lhe o sangue...
Lorde Arthur, se existir misericórdia
em teu coração, e com ela conseguires perdoar os inúmeros males que fez a tua
família, reconhecei-lhe também a nobreza! É teu tio e o irmão de tua
doce mãe Joane. Reconhecei-lhe o sangue!
O jovem parecia refletir silenciosamente; A emoção
ainda lhe aflorava em faces rosadas, quando pensava nas mortes de seus irmãos,
Brigith e Anderson. Pensou incógnito
"... como poderia conviver diariamente, com aquele que os matara!"
-
Perdoai-me Ricardo, mas não seria capaz de manter convivência amigável
com alguém que matou os meus irmãos...o sentimento ainda me fere em demasia!
-
Compreendo-te senhor Arthur; aconselhei-te que lhe concedesses a
nobreza reconhecendo-lhe o mesmo sangue; No entanto creio também não ser certo
que resida aqui no castelo!
Lorde Arthur indagou-o perplexo.
-
Moraria aonde Ricardo?
-
Deste-me umas terras e como sabes lá construi uma modesta moradia;
Carol deseja ficar no castelo contigo, até que te cases... deixai que Gabriel
viva lá!
-
Mas a tua propriedade fica a somente uma hora de cavalgada...não é
demasiadamente próximo?
-
Suficiente para podermos vigia-lo nobre Arthur! Poderíamos colocar lá
alguns servos fieis nos quais podessemos confiar!
-
Mas Ricardo, o guerreiro que lhe seria a sombra como poderia
alertar-nos de algo errado que pretendesse, se não poder sair do seu lado?
-
Pensastes bem Arthur, a sua obrigação será proteger-nos vigiando-o
incessantemente, mas não informar-nos continuamente de como Gabriel vive...
Pensou um pouco e continuou:
-
...Silvio já é um rapaz esperto e mostrou-se extremamente fiel,
colocai-o na propriedade de Gabriel, e com certeza ele nos manterá informados.
Arthur pensava apressadamente em tudo o que Ricardo
lhe sugeria.
Colocou-lhe a mão no ombro e disse-lhe agradecido:
-
Irei ver Gabriel, e tirarei minhas conclusões! Agradeço-te o imenso
auxilio que me destes mais uma vez! Obrigado Ricardo!
Arthur abraçou-o emocionado e sentindo que uma
enorme tranqüilidade substituíra a ansiedade e a fragilidade que sentia antes
de o chamar para dialogar. Sorrindo em paz , afastou-se.
O entardecer
apresentava-se sublime quando o jovem lorde Arthur subiu á masmorra
determinado.
A cela já fazia-se escura, mas Arthur percebeu que
aquele forte homem de vinte e sete anos estava próximo á janela.
-
Gabriel, vim falar contigo!
Gabriel olhou surpreso a visita inesperada, estava o
lorde acompanhado de dois guerreiros, um deles prontamente acendeu uma tocha
que clareou o recinto, iluminando-lhes as faces em tons avermelhados das chamas
que ardiam.
-
Tua mãe sofre em demasia por ti...
Gabriel baixou a cabeça humildemente dizendo-lhe:
-
Senhor lorde, matai-me para que não faça mais ninguém sofrer! Tens
inúmeros motivos para isto...dai-me veneno, eu mesmo darei fim nesta vida tão
prejudicial a tantos...
-
Cala-te Gabriel!
As lamurias de Gabriel e aquele recinto muito o
incomodavam.
-
Deverás ouvir-me atentamente...
Arthur caminhou até á janelinha e visualizou o sol
se escondendo sob as colinas, o rio cortando sereno as pastagens verdejantes,
os cavalos imponentes sendo trazidos para o celeiro, e se sentiu mais
tranqüilo. Voltou-se e continuou:
-
Dizia que tua mãe sofre muito por ti...deve ter te falado que irá
casar-se na próxima semana com o lorde Ricardo...
Gabriel olhava-o atentamente e Arthur concluiu que
compreendia.
-
... desejo lhe fazer feliz porque é a mãe que não mais tenho; no dia do
casamento, mandarei libertar-te...
Gabriel deu um suspiro ofegante de surpresa.
-
... te trajarás nobremente para a levares ao altar...será o meu
presente de padrinho! Serás apresentado a todos os convidados como Lorde
Gabriel Vandak, filho do Duque Vandak e irmão da Duquesa Joane Vandak
Corleanos; com isto reconhecerei publicamente o tio que me és! Participarás da
festa e finda esta retornarás ao aposento ...no dia imediato irás para a
propriedade de lorde Ricardo Lamartine e lá viverás com alguns servos;
Administrarás a futura moradia e a
propriedade de tua mãe Duquesa Carol Vandak Lamartine...
Gabriel havia baixado a cabeça diante de tanta
benevolência e misericórdia. Deixou-se cair de joelhos sentindo-se muito
pequeno diante da grandeza daquele jovem e aos prantos beijou-lhe os pés.
-
Levanta-te Gabriel!
O servo Gabriel levantou-se com dificuldade, tamanha
era a emoção que sentia.
-
Pelos restos de teus dias, haverá sempre contigo um guerreiro que te
acompanhará noite e dia onde quer que estejas; esta é a minha única imposição á
tua liberdade!
Dizendo isto Arthur afastou-se para sair, mas voltou
ainda dizendo-lhe:
-
Nada contes a Carol, desejo lhe fazer uma surpresa!
O servo reverenciou-o humildemente e Arthur foi se embora.
Gabriel olhou a noite que descia bela sobre a propriedade,
e jurou fidelidade absoluta a lorde Arthur e á sua família, admirando a
grandiosa lua cheia que surgia no horizonte. Teria a oportunidade de reparar as
falhas inadmissíveis que cometera em sua vida; reconstruir uma vida nova!
O dia do casamento amanheceu
extremamente luminoso. Poucos convidados haviam vindo ao castelo para a grande
festa e estes estavam devidamente alojados em comodidade e regalias.
Alguns lordes passeavam com lorde Arthur,
conhecendo-lhe a propriedade e fazendo-lhe elogios, o que o deixavam
satisfeito.
Gabriel, discretamente tinha sido transferido, ainda
de madrugada, para que ninguém o visse, da masmorra para um cômodo aposento.
Neste deveria ficar oculto até á hora da cerimonia.
Sara e Carol mantinham-se em seus aposentos
preparando-se para a grande comemoração, assim como as demais damas que haviam
vindo da corte.
A cerimonia de casamento, seria realizada quando o
sol declinasse a sua majestade, ao entardecer.
Lorde Arthur acompanhara Ricardo durante todo o dia.
Este se mantivera intranqüilo e ansioso continuamente ; por vezes o jovem
brincava com ele, em seu espirito juvenil, fazendo gracejos a respeito de sua
enorme inquietude e de sua expectativa ; o medico mostrava-se aparentemente
contrariado e chateado mas em seu intimo gostava da alegria, que aquele jovem,
que lhe era como um filho, lhe passava.
Lorde Arthur não contara ao medico sobre a presença
de Gabriel no interior do castelo e nem de suas intenções em presentear Carol
com sua presença. Seria lhe uma enorme surpresa, ver que aquele jovem nobre,
aceitara seus conselhos, e que a
misericórdia e a benevolência haviam curado as inúmeras dores de seu coração.
Aproximando-se das quatro horas, ao entardecer de um
dia interminável, os músicos fizeram soar lindas valsas no salão nobre.
Em muito
requinte e luxo os convidados pouco a pouco iam sendo anunciados por um servo
elegantemente uniformizado, entrando no salão em elegantes trajes de gala.
As velas em chamas que luziam nos candelabros faziam
brilhar os pingentes de cristalinos, realçando uma bela claridade.
Belas jovens de varias faixas etárias, rodopiavam
com seus avolumados vestidos agora no salão, em compasso ameno com seus
parceiros de dança.
O nobre Arthur olhava-as encantado com tanta beleza
e formosura, mas sem nenhum interesse especial.
Repentinamente o servo anunciou uma convidada, o que
despertou a atenção de todos convidados, para a entrada do salão.
-
A Duquesa Linia de Corleanos!
Os murmúrio se fez entre os convidados. Todos
desejavam conhecer quem era e como era a
irmã daquele lorde tão jovem e tão rico.
Linia entrou imponente no salão; estava lindíssima
em trajes de veludo acetinado em tons lilases; Sorriu a Arthur fazendo-lhe leve
meneio.
O lorde Arthur sentindo-se observado por todos os
seus convidados, sorriu-lhe amorosamente, beijando-lhe as mãos.
Depois no entanto, não conseguindo conter-se,
murmurou-lhe num cochicho irônico e brincalhão, de maneira que somente ela
ouvisse:
-
Linia estou surpreendido, os ares dos campos te fizeram imenso bem;
estás maravilhosa!
Linia agradeceu-lhe sorridente, ainda que soubesse
que o irmão lhe era irônico; e entrou no salão sendo cumprimentada por todos.
E assim, diversos convidados continuaram sendo
apresentados ao chegarem no salão nobre.
O frei também já havia chegado e aguardava próximo a
um pequeno altar improvisado e completamente adornado por lírios brancos.
Ricardo aproximou-se do salão e Lorde Arthur fez um
sutil meneio ao servo, para que este também o anunciasse:
-
Lord Ricardo Lamartine!
Ricardo olhou-o com discreta censura, pelo
constrangimento, mas radiante em felicidade sorriu-lhe caminhando para o
pequeno altar onde aguardaria a noiva.
As valsas haviam sido interrompidas; uma bela
melodia suave orquestrada pelos músicos, se misturava ao murmúrio dos
convidados alegres no salão. O ambiente era leve e feliz.
Derrepente o servo anunciou:
-
Lorde Gabriel Vandak! Filho do falecido Duque Vandak!
Imediatamente os olhos de Arthur e Ricardo se
encontraram num forte e indescritível abraço apertado.
Apesar da distancia que os separava no salão, o
nobre jovem Arthur sentindo uma enorme
emoção de amor em seu peito; podia observar que os olhos de um grande homem, seu mentor Ricardo;
lacrimejavam destemidos á presença dos convidados ou ás normas sociais; em
sinceras lagrimas, puras e belas, que lhe sorriam em pranto candidamente
agradecido...Lagrimas que o aplaudiam com extraordinário orgulho!
Gabriel entrou belíssimo e elegante no salão;
acompanhado de um jovem forte também elegantemente vestido.
Linia não conseguia conter-se de curiosidade,
indagando-se: "Não era aquele homem que havia sido preso na
masmorra?"..."Que fazia numa festa tão imponente"...Admirou-lhe
o corpo forte e musculoso e o semblante em traços bonitos. Sentia enorme ânsia
de aproximar-se para vê-lo melhor, pois alguns cavalheiros impossibilitavam-lhe
visão plena, mas ficou onde estava.
Lorde Arthur tentando se controlar na profunda
emoção que ainda sentia na vontade enorme de correr e abraçar, aquele que lhe
era o pai Ricardo; Sorriu fraternalmente para Gabriel cumprimentando-o .Grandes
e nobres sentimentos se expandiam em seu pequeno coração.
-
Duquesa Sara de Corleanos!
Sara entrou imensamente sorridente no salão. O seu
cabelo adornado num primoroso coque, a fazia aparentar faixa etária mais
adulta. Estava elegantemente vestida, com um deslumbrante vestido em cetim
branco com muitas rendas e esvoaçante em
saias rodadas que pareciam flutuar com seu caminhar; apertado em sua cintura,
oferecendo-lhe as curvas que aquele corpo ainda muito jovem não possuía. Os pequeninos seios eram subtilmente
disfarçados, propositadamente, por um xale de renda que lhe descia sobre os
ombros .
Lorde Arthur olhava-a fascinado com sua beleza e
caminhou determinado até ela. Deu-lhe um beijo carinhoso em suas mãos, e Sara
sorriu-lhe agradecendo num meneio. Disse-lhe:
-
Querido Arthur, dançarás todas as valsas comigo!
Arthur prontamente concordou sorrindo-lhe ; Sara
então, soltando as suas mãos que o jovem ainda segurava firmemente, caminhou até
próximo ao seu tutor Ricardo. Percebera a presença de sua mãe Linia, mas a
ignorara.
O nobre jovem, olhava Sara continuamente, sendo-lhe
difícil manter-se distante.
Finalmente o servo anunciou:
-
Duquesa Carol Vandak!
Arthur sentiu receoso que os convidados ali
presentes. Pareciam confusos com aquela duquesa tão desconhecida na corte;
porem tranqüilizou-se ciente de que estes não se atreveriam a questionar ou dar
seqüência a comentários maldosos.
Carol aparentemente emocionada, olhou Arthur
forçando um sorriso, mas o seu semblante em verdade, ameaçava prantear
felicidade.
Arthur aproximou-se e brincando murmurou-lhe
carinhosamente:
-
Sei que é o dia mais feliz de tua vida, e a tua enorme beleza e candura
demonstram a tua felicidade; porem deixa para chorar depois!
A brincadeira infantil de Arthur a descontraíra um
pouco. Carol lhe sorriu ternamente.
Arthur fez um sinal aos músicos para que tocassem
uma outra doce melodia; Era o sinal combinado com Gabriel para que se
aproximasse de Carol.
O jovem Arthur, sentindo enorme e sincera emoção
disse á nobre senhora, num sussurro baixinho:
-
O meu presente de amor, para uma mãe tão querida...
E apresentou-lhe seu filho Gabriel, que já se
aproximara.
-
...eis o teu filho Lorde Gabriel Vandak, que te levará ao altar!
Carol não conseguiu conter-se na imensa emoção que
sentia ao ver Gabriel ali; indiferente ás pessoas ali presentes abraçou Arthur fortemente deixando se
entregar a um pranto profundamente agradecido.
A vida finalmente lhe era plenamente feliz, aos
quarenta e dois anos de existência.
Arthur
extremamente emocionado com aquele momento sublime de amor; Também
pranteou expontânea felicidade.
Inúmeros convidados ali presentes, atônitos, não
compreendiam aqueles momentos tão emotivos que presenciavam. Mantinham-se silenciosos
observando-os surpresos.
O jovem contendo-se no pranto sutil, sorriu-lhe
brincando:
-
Disse-te para chorares depois; tinhas que fazer-me chorar! Vai querida
Carol todos te esperam; é a tua grande noite e tudo mereces!
A nobre senhora tentando também conter a grande
emoção, que sentia forte em seu peito; deu a mão a Gabriel. Este segurando-a com certa energia tremula, levou-a ao altar, sob os
olhares de todos.
As duas mãos unidas estavam úmidas e tremulas. Carol sentia que o seu filho, estava tão sensibilizado
quanto ela.
Chegando ao altar Gabriel deixou a sua mãe próxima
ao Lorde Ricardo. Este sorriu-lhe agradecido, e beijou a face de sua
companheira Carol, com enorme amor, dando-lhe a mão, para que fosse abençoada
aquela união .
A cerimonia foi breve mas profundamente
emotiva. As valsas recomeçaram no salão
convidando os ali presentes a se divertirem.
-
Vamos dançar Arthur?
Os olhos de Sara pareciam mergulhar no seu coração.
Lorde Arthur sentindo-se culpado pelo amor que
tinha a sua sobrinha, ainda tão jovem; olhou para Ricardo suplicante, sem saber como agir.
Este, sentindo-lhe os receios, murmurou-lhe num silencioso cochicho,
confortando-o em suas aflições:
-
Poderás dançar e conversar com Sara a noite inteira se assim desejares!
Não vejo problemas nisto!
Arthur sentindo-se aliviado, tirou Sara gentilmente
para dançar. Também o lorde Ricardo e a duquesa Carol foram dançar no salão
radiantes de alegria.
Linia não conseguia mais controlar-se e aproximou-se
de Gabriel dizendo-lhe subtilmente para que ninguém lhe percebesse a
indelicadeza:
-
Queres dançar comigo?
Gabriel olhou a bela jovem que lhe sorria
amavelmente, olhou o guerreiro Paulo que o olhava subtilmente... sentindo-se
confuso em como deveria agir, balbuciou-lhe educadamente aquela linda jovem:
-
Não sei dançar senhorita, perdoai-me!
Linia
intrigada e sentindo-se confusa com o estranho sentimento que a
impulsionava a não afastar-se dele, insistiu:
-
Conversai comigo então, Senhor Lorde Gabriel!
Este novamente olhou para Paulo, sem saber como se comportar...pensou;
"estaria infringindo as regras de lorde Arthur, em convidar uma senhorita
para conversar?"...
Paulo percebendo-lhe as duvidas, fez um sinal
discreto para que um servo chamasse o lorde Arthur, que ainda dançava uma valsa
com Sara.
O nobre jovem pedindo desculpas por interromper a
alegre dança, afastou-se da jovem sempre compreensiva, caminhando na direção de Gabriel.
-
Algum problema Gabriel?
Indagou-lhe Arthur sorridente pois muitos convidados
os observavam; fixou no entanto o seu olhar em sua irmã Linia, murmurando-lhe
num baixo balbucio sempre sorridente.
-
Deixastes as noções de etiqueta em tua propriedade? Não sabes que uma
dama jamais deverá abordar um cavalheiro?
Linia contrariada e sentindo-se humilhada na frente
daqueles cavalheiros afastou-se. Gabriel sentindo-se temeroso com aquela situação que ali se
criara, pediu-lhe:
-
Senhor Lorde Arthur, perdoai-me mas não estou certo em como
comportar-me aqui...não seria melhor que eu retornasse ao aposento?
Arthur finalmente convencia-se de que Gabriel havia
perdido por certo sua memória; em sua simplicidade e completa indiferença a
Linia que tanto se parecia, com sua paixão Brigith.
Olhou o salão ao redor e visualizou que Sara o
aguardava ansiosa, desejando dançar.
-
Gabriel, deverás comportar-te como qualquer convidado! Poderás dançar,
conversar, comer ou beber...no entanto estás proibido de te retirares deste
salão enquanto eu não o autorize; compreendes?
Gabriel fez-lhe um meneio afirmativo agradecendo-lhe
o auxilio.
-
Paulo escutastes minhas ordens?
O guerreiro que vigiava Gabriel respondeu a seu
nobre senhor:
-
Sim senhor lorde Arthur, assim será!
Finalmente Arthur sentia-se novamente livre, a
divertir-se com Sara, em noite tão feliz.
Gabriel também tentou distrair-se. Olhava as danças
com euforia e escutava as valsas alegres, sempre olhando para a sua mãe Carol
que aparentemente muito feliz conversava animadamente com seu companheiro
Ricardo.
Admirou as bonitas jovens no salão, mas não teve o
atrevimento de convida-las a dançar; ainda que sentisse enorme vontade de
faze-lo.
Sentia-se leve. Sentia-se bem! Contemplou o Lorde
Arthur com verdadeira adoração e agradecimento; Paulo sempre a seu lado
subtilmente, parecia-lhe o amigo e ninguém desconfiava a sua função de guarda.
Linia que havia se afastado contrariada, com a
observação do irmão, não conseguia controlar-se e continuamente observava
Gabriel. Estava fascinada por seu porte elegante, os traços belos do seu rosto,
a vivacidade dos seus olhos, a cor bronzeada da sua pele...sentia-se atraída por
seus músculos aparentes sob as vestes...estava incrivelmente seduzida por
aquele homem!
Arthur percebera isto preocupado. Era incessante o
seu olhar para Gabriel. Aproximou-se fazendo-lhe uma reverencia.
-
Duquesa Linia, deseja dançar com seu irmão?
Linia olhou-o ainda contrariada mas percebendo-se
observada por alguns convidados, deu-lhe a mão sorridente e ambos saíram
valsando.
Arthur que o havia feito propositadamente para
falar-lhe sem atrair atenções,
murmurou-lhe em seu ouvido discretamente:
-
Ficai longe de Gabriel, minha irmã Linia!
A jovem tentando fingir-se surpresa, respondeu-lhe
também num murmúrio respondeu-lhe:
-
Não compreendo o que dizes, meu irmão?
Arthur aproveitando-se da valsa, deu um rodopio
apertando-a em advertência.
-
Sabes sim irmãzinha...observo-te desde o inicio da cerimonia e percebi
claramente como te aproximastes dele; e como ele reagiu em total
indiferença...tirai o olhar de Gabriel! Se desejas casar-te novamente, poderás
conseguir um bom pretendente neste salão...Gabriel é mais pobre e servil que
teu falecido marido Job, compreendestes?
Dizendo-lhe isto, Arthur interrompeu a dança da
valsa, despedindo-se dela cordialmente num sorriso. Caminhou então mais tranqüilo e alegre, para
conversar um pouco com seus amigos, Carol e Ricardo.
-
Arthur, poderei conversar com meu filho Gabriel?
Pediu-lhe Carol humildemente, ainda emocionada com
tudo e imensamente agradecida. Arthur pegando-lhe a mão falou-lhe
carinhosamente:
-
Minha querida Carol, disse-te que era o meu presente de padrinho...aceitei
os bons conselhos de teu companheiro
Ricardo e Gabriel está livre, porem sob vigilância rigorosa!
A nobre senhora então, compreendeu o homem robusto
que lhe fazia companhia, como se um grande amigo lhe fosse.
-
Poderá ir e vir ! Morará em vossa propriedade, enquanto residirem aqui
no castelo; Trabalhará administrando-a para vós...
-
Existe tanta bondade em seu coração meu nobre Arthur, eterna será a
minha gratidão para contigo!
-
Carol deixai de agradecimentos, muito lhe devo ainda, em nome de minha
família...
Carol então, sorrindo-lhes, pediu-lhes licença e foi falar com seu filho
Gabriel.
-
Estás tão elegante, meu filho!
Gabriel beijou-lhe as mãos carinhosamente
imensamente emocionado.
-
Nunca te esqueças Gabriel, do que o nobre Arthur está fazendo por ti,
concedendo-te a liberdade...lhe deves gratidão e fidelidade eterna!
Carol deu uma pausa fixando-lhe o olhar atentamente.
-
Promete a esta tua mãe, nesta noite tão linda e tão feliz, que
reconstruirás a tua vida sendo um homem bom e justo!
Gabriel olhou-a serenamente e as lagrimas
sensibilizadas desceram-lhe nos olhos, falando-lhe ternamente:
-
Minha mãe, eu lhe prometo que de hoje em diante, somente sentirás
orgulho deste teu filho!
A emoção comovia-os enormemente e depois de breve
silencio, Gabriel sussurrou-lhe:
-
Minha mãe, sinto imensa vontade de dançar, estou tão feliz!
Carol sorriu-lhe , falando-lhe.
-
Dançai comigo a próxima valsa!
Recomeçando uma nova valsa, Gabriel tirou a mãe
gentilmente para dançar, sob a continua vigilância de Paulo.
Começaram a rodopiar no salão e Gabriel foi se
sentindo cada vez mais leve e mais feliz.
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